EM “DJANGO LIVRE”, TARANTINO AGORA BRINCA DE FAROESTE.

Boa notícia para os fãs de Tarantino: ele continua o mesmo. Notícia nem tão boa para quem não é tão fã do Tarantino: ele continua o mesmo.

Seguindo a sua já tradicional linha de brincar com os vários gêneros cinematográficos,Tarantino visita agora o faroeste. E, sim, novamente ele se utiliza de sua boa e velha fórmula que tanto tem dado certo (afinal, não se mexe em time que está ganhando). Vamos a ela: diálogos gigantescos repletos de sarcasmo e ironia, domínio técnico nas artes de enquadrar e cortar, toneladas de referências cinematográficas a outros filmes do mesmo gênero para fazer a alegria do cinéfilo que fica eufórico em decifrá-las, interpretações divertidas e eficientes e, claro, sangue em quantidades industriais.

Tudo isso está de volta em “Django Livre”.

Tarantino faz mais que filmes: ele cria verdadeiros jogos onde o cinéfilo passa o tempo curtindo a divertida tarefa de adivinhar as sinalizações do cineasta. “Olha o Franco Nero que fez o Django original!”. “Olha o Jamie Foxx fazendo outra vez o papel do marido da mesma atriz que contracenou com ele em Ray!”. “Olha a roupa igual à usada nos filmes do Sérgio Leone!”. “Olha a trilha do Morricone!”. Tudo isso faz dos filmes de Tarantino uma experiência lúdica como pouco vemos no cinema atual. Uma ludicidade que encobre com eficiência a abissal carência de conteúdo que quase sempre acompanha os filmes do cineasta.

E “Django Livre” não foge à fórmula. Rápido no gatilho de sua câmera, esperto na ilha de edição, e contando com o talento de seus fieis pistoleiros (principalmente Christoph Waltz, como um sarcástico dentista/caçador de recompensas), Tarantino cumpre novamente seu objetivo de divertir o público. Com muita técnica e habilidade; e pouco conteúdo.

Muito a mostrar, pouco a dizer, toneladas de cultura pop para brincar. É sobre este trinômio que Tarantino se sustenta há décadas como um dos talentos mais festejados da nossa era. Sem dúvida, um bom cineasta e um excelente marqueteiro que soube como pouco compreender o seu público e o seu tempo.

A ponto de fazer um faroeste que não se passa no oeste. Cujo roteiro sequer importa: afinal, é um filme de Tarantino.