EM DVD, A GRANDE VIAGEM – EM VÁRIOS SENTIDOS – DE “MATADOURO CINCO”.

Por Celso Sabadin.

Um filme sobre viagens no tempo sem efeitos especiais, mas com muita criatividade. Assim é “Matadouro Cinco”, obra que o diretor George Roy Hill realizou em 1972, entre os clássicos de sucesso “Butch Cassidy” e “Golpe de Mestre”. O filme faz parte da caixa “Sci-Fi Volume 2” lançada pela Versátil, mas não se trata exatamente de uma ficção científica: com roteiro de Stephen Geller a partir do livro de Kurt Vonnegut Jr. (que foi de fato prisioneiro durante a Segunda Guerra), “Matadouro Cinco” é muito mais uma fantasia existencial com toques de aventura que propriamente uma ficção científica na acepção tradicional do termo.

Tudo gira em torno de Billy Pilgrim (o então estreante Michael Sacks, cuja carreira não decolou), um homem que tem o poder de viajar no tempo. E não procure maiores explicações. Isso acontece simplesmente porque acontece, e nem o protagonista sabe os motivos, muito menos como controlar suas idas e vindas. Afinal, estamos no início dos anos 70, tempo do movimento hippie, da contracultura, da quebra de paradigmas e da fragmentação das narrativas. Muito mais estimulante que buscar motivos racionais é embarcar nos questionamentos existenciais propostos pela trama. Entre eles, o de um tempo fluido e constante, sem pontos iniciais ou finais, onde tudo acontece simultânea e ininterruptamente. Diante deste conceito, o que passa a ser realmente importante? Confuso? Nem tanto, principalmente se lembrarmos que estes loucos anos 70 também foram marcados pelas viagens alucinógenas e suas influências nas artes e na comunicação.

Guardadas as devidas proporções e épocas, há algo de “Forrest Gump” em “Matadouro Cinco”. Aqui, vemos também um protagonista que se apoia numa suposta – eventualmente falsa – ingenuidade ou passividade para tecer críticas a uma sociedade americana que naquele instante perdia sua credibilidade e metia os pés pelas mãos no Vietnã. Ícones colocados pelo filme – o cadillac branco que se despedaça, o desmascaramento da ação aliada na Segunda Guerra, o filho rebelde transformado em soldado, etc – atuam como elementos questionadores de uma sociedade em transformação que ainda não digeriu os acontecimentos históricos que mudariam o mundo ocidental no final dos 60.

“Matadouro Cinco” é um filme sobre destruições, transformações e, talvez, reconstruções. Os soldados americanos encantados com as belezas de Dresden e seu posterior bombardeio ilustram bem o tema.