EM DVD, CONTOS DA LUA VAGA ABRE CAIXA DE CLÁSSICOS DE MIZOGUCHI.

Referência inquestionável em lançamentos de DVDs de qualidade, a Versátil está colocando no mercado a bela caixa O Cinema de Mizoguchi. São três discos que reúnem cinco clássicos restaurados de Kenji Mizoguchi (1898-1956), considerado um dos três maiores mestres do cinema japonês de todos os tempos, ao lado de Yasujiro Ozu e Akira Kurosawa. São eles: Contos da Lua Vaga, Oharu – Vida de uma Cortesã, As Irmãs de Gion, Os Amantes Crucificados, Senhorita Oyu.

Ontem assisti a Contos da Lua Vaga, e estou em estado de graça até agora. O filme é de 1953, ganhou o Leão de Prata em Veneza, e é ambientado numa das várias guerras civis que assolaram o Japão no século 16. Não importa em qual guerra a ação acontece exatamente, pois o foco do filme é eminentemente humanista. Ele fala de dois casais de camponeses cujos homens (sempre eles) veem no conflito a possibilidade de subir na vida. Enquanto Genjuro se entrega desesperadamente de corpo e alma à fabricação de objetos de cerâmica, para tentar vendê-los a preços altos em cidades próximas, Tobis alimenta seu ambicioso sonho de se tornar um respeitado samurai. Em contrapartida, suas mulheres (sempre elas) defendem a ideia que, principalmente em época de guerra, o mais importante é a paz proveniente da sólida união da família.
Porém, como não poderia deixar de ser, a incomensurável ambição masculina vai falar mais alto, guiando a vida dos casais para as terríveis e inevitáveis tragédias que acontecem em toda e qualquer guerra.

Salpicado de ensinamentos morais e de elementos sobrenaturais, o filme é baseado no livro Contos da Chuva e da Lua, do escritor Ueda Akinari, publicado em 1776. Contrariamente ao que muitas vezes se espera de um filme japonês, a narrativa de Contos da Lua Vaga é ágil e com vários momentos de ação, sem contrariar, porém, a sempre bem-vinda carga de reflexões psicológicas, poéticas e humanistas, marca registrada do cinema nipônico. Há momentos de intensa beleza fotográfica em preto e branco, além de planos magnificamente construídos.

Entre os extras, um depoimento de 30 minutos que é uma verdadeira aula de cinema japonês, proferido pelo crítico Sérgio Alpendre.