EM DVD, “IRENE, A TEIMOSA” FAZ SÁTIRA SOCIAL COM A CRISE PÓS 1929.

Por Celso Sabadin.

As cenas iniciais de “Irene, a Teimosa” são um primor: os créditos surgem escritos em luxuosas marquises de belos edifícios e construções, revelados aos poucos por uma elegante panorâmica horizontal. Sem cortes, no mesmo plano, a câmera encerra seu movimento debaixo de uma ponte onde um mendigo tenta se aquecer. Em poucos segundos, o filme já diz a que veio: para denunciar e desmontar (com humor) o abismo sócio cultural instalado naquela sociedade norte-americana que ainda sofria as consequências da quebra da bolsa de Nova York de 1929, sete anos antes do lançamento deste ácido “Irene, a Teimosa”.  

Sem meias palavras, a ação segue ágil logo após o final dos créditos. Um luxuoso carro estaciona ao lado dos mendigos. Dele sai uma socialite sem noção (com o perdão da redundância) que tenta convencer um dos sem-teto a ir com ela até uma festa chique. O motivo? A madame (Gail Patrick) está participando de uma gincana, e uma das tarefas é apresentar um “exótico” mendigo (William Powell) aos participantes. Ela marcaria pontos na brincadeira, e ele ganharia 5 dólares. Ofendido, o rapaz nega a sórdida negociação, mas percebe na situação a oportunidade de conseguir um emprego de mordomo.  

Tem início assim uma sarcástica comédia social com roteiro baseado no livro  1101 Park Avenue, que Eric Hatch publicara no ano anterior. A direção de Gregory La Cava (ex-cartunista e ex-animador dos estúdios de Walter Lantz, o criador do Pica-Pau) segue a linha das comédias espertas dos anos 1930, sempre com ótimo ritmo, sucessões impagáveis de mal entendidos, um toque romântico e pitadas de veneno na crítica social.  

Produzido pela Universal, “Irene, a Teimosa” foi indicado para seis prêmios Oscar, incluindo direção e roteiro, mas acabou não levando. O filme faz parte do especial “Comédias Clássicas”, lançado em DVD pelo selo Obras Primas do Cinema.