EM DVD, “MULHER DIABÓLICA DE MARTE” JÁ ABORDA O EMPODERAMENTO FEMININO.

Por Celso Sabadin.

Foi com este visual da foto – meio cavaleiro medieval, meio Darth Vader, com nítida influência nazista  – que a bela atriz inglesa Patricia Laffan encarnou, em 1954, o papel título de “Devil Girl From Mars”, lançado agora em DVD pelo selo Obras Primas do Cinema como “Mulher Diabólica de Marte”. Registrado no site Imdb como “A Garota Diabólica de Marte”, o filme é uma produção britânica baseada numa peça de teatro escrita por John C. Mather e James Eastwood, com roteiro do próprio Eastwood (que seguiria carreira no cinema e na TV britânicos como roteirista de curtas, longas e seriados). A direção é do escocês David McDonald, que assinou quase 60 filmes e seriados e TV entre os anos 30 e 60, incluindo o piloto da clássica série “Ivanhoé”, com Roger Moore.

Como era costume na ficção científica da época da Guerra Fria, “Mulher Diabólica de Marte” retrata uma invasão alienígena ao nosso planeta. No caso, uma invasão praticamente solitária, já que a marciana Nyah vem acompanhada em seu disco voador apenas por um robô. A solidão se explica: ela vem à Terra em busca de homens para dar continuidade à sua raça, pois o gênero masculino está em extinção no chamado planeta vermelho. Sim, vale lembrar que desde o final da Segunda Guerra já se falava bastante no “empoderamento” feminino, ainda que não exatamente utilizando esta palavra.

Por um erro de cálculo, o disco voador acaba pousando não numa grande cidade repleta de homens a serem sequestrados, como queria Nyah, mas na zona rural da Escócia, ao lado de uma prosaica pousada fechada por causa do inverno. É ali que a trama se desenvolve, explorando um tipo de dramaturgia bem típica do teatro: por diversos motivos, personagens os mais diferentes se encontrarão na pousada, incluindo um fugitivo da polícia, um jornalista (sempre tem um jornalista) e um garotinho, sobrinho da dona do lugar, cuja presença o roteiro do filme “esquece” solenemente durante boa parte da ação.

A origem teatral do filme fica explícita no excesso de diálogos e na unificação do tempo/espaço, com tudo acontecendo praticamente numa única noite, num único lugar. A diversidade dos personagens enriquece o texto e a ação, fazendo com que “Mulher Diabólica de Marte” explore outros vieses do relacionamento humano além dos propostos pela invasão.  Mas certamente a melhor opção da produção (de baixo orçamento, diga-se) foi a escolha de Patricia Laffan para o papel principal. De ar aristocrático e sorriso enigmático, Patricia iniciou sua carreira nos palcos ingleses e estreou no cinema em 1943, aos 24 anos. Atuou em mais de 30 filmes e seriados da TV britânica, muitas vezes como vilã, sendo que seu papel mais conhecido foi a da imperatriz Poppaea, esposa de Nero, no épico “Quo Vadis”. Atuou até os anos 70 e morreu em 2014, aos 94 anos.

“Mulher Diabólica de Marte” faz parte da caixa de DVDs ”Invasão Sci-Fi – Extraterrestres”, lançada pela Obras Primas.