EM DVD, “O CHAPLIN QUE NINGUÉM VIU” TRAZ PRECIOSAS RARIDADES DO CINEASTA.

Por Celso Sabadin.

É bom rever a bela morena Georgia Hale, com Charles Chaplin, na sua inesquecível interpretação da cega vendedora de flores em “Luzes da Cidade”… só que não. O histórico papel da florista sempre foi da loira Virginia Cherrill.  Georgia, atriz principal de “Em Busca do Ouro”, com o mesmo Chaplin, jamais atuou em “Luzes da Cidade”. A cena da morena vivendo o mesmo papel da loira – jamais exibida nos cinemas – é apenas uma das preciosidades do documentário “O Chaplin que Ninguém Viu”, lançamento em DVD do selo Obras Primas. Trata-se de um teste de câmera realizado num momento em que Chaplin estava tão furioso com o desempenho de Virgínia que chegou a considerar refazer o filme por completo, substituindo a atriz principal. A ideia do cineasta não vingou, mas o take permaneceu. E está no filme, entre dezenas de outros inestimáveis presentes para os cinéfilos.

“O Chaplin que Ninguém Viu” é uma minissérie da TV inglesa dirigida em 1983 por David Gill e Kevin Brownlow e relançada agora no Brasil numa caprichada edição em DVD, com embalagem contendo um pôster e um par de cards para colecionadores. São 156 minutos trazendo imagens de puro encantamento que haviam permanecido por cerca de 70 anos perdidas em arquivos de “colecionadores particulares” (eufemismo para “piratas”). Imagens que Chaplin jamais desejou divulgar pelo fato que seu estudo poderia revelar alguns segredos de seus métodos de trabalho. O que de fato aconteceu. São momentos de bastidores, milhares de metros de gags filmadas e jamais utilizadas, filmetes domésticos, cenas inteiras que ficaram no chão da sala de montagem e que escaparam da prática cruel que, na época, mandava incinerar o material não utilizado no corte final.

Através destas imagens perdidas, percebe-se o perfeccionismo de Chaplin que não hesitava em repetir o plano quantas vezes fossem necessárias até chegar à perfeição; explicita-se também sua forma de trabalhar sem roteiro, testando as ideias durante a filmagem, e não no papel; e há até o registro de simples e criativos “efeitos especiais” utilizados pelo cineasta. O DVD traz ainda cenas inteiras de “O Professor”, de 1923, filme que jamais chegou a ser concluído.

Uma entrevista de meia hora onde o diretor Kevin Brownlow conta a aventura da descoberta destes negativos completa a edição.

Para os fãs de Chaplin, descobrir este material tem importância similar à descoberta que o túmulo de Tutankamon teve para os arqueólogos. Imperdível e emocionante.