EM DVD, O ENVOLVENTE PENTÁGONO AMOROSO DE “CAMINHO DA TENTAÇÃO”.

 

Por Celso Sabadin.

 

1948. O emprego fixo, a bela casa no subúrbio, o casamento estável, o filho pequeno e a invejável situação econômica dos EUA do pós Guerra em nada entusiasmam John Forbes (Dick Powell). Pelo contrário: o tédio da rotina aborrece o executivo que – saberemos depois – não teve a ”honra” de lutar pelo seu país durante o recém encerrado conflito mundial.

Entediado, Forbes é uma presa fácil para o canto da sereia da aventura. E se esta sereia é a bela modelo Mona (Lizabeth Scott), o desastre será inevitável. Assim começa “Caminho da Tentação”, um empolgante pentágono amoroso que desenvolverá cinco fascinantes personagens que, como sempre acontece nos filmes noir, passam longe do maniqueísmo ingênuo que contaminava as produções norte-americanas de antes da Guerra. O filme está no sexto volume da coleção Film Noir, lançada pela Versátil.

Se Forbes é um pai de família exemplar que tropeça diante da beleza de Mona, esta, por sua vez, não é a fútil destruidora de lares que pode parecer nas primeiras cenas, da mesma forma que seu namorado presidiário Smiley (Byron Barr) tampouco é um gangster desalmado. Até o truculento Mac (Raymond Burr) tem suas motivações vindas do coração, enquanto a aparentemente frágil Sue (Jane Wyatt), esposa de Forbes demonstra suas força e resistências adormecidas em algum lugar do passado. Ou seja, no roteiro de Karl Kamb (baseado no livro “Pitfall” de Jay Dratler, roteirista do clássico “Laura”), todos os personagens são multidimensionais, humanos, críveis, longe do binômio simplificador bandido/mocinho. E, portanto, muito mais interessantes, principalmente com a direção ágil e segura de André de Toth, um ex-ator e autor húngaro de teatro que, fugindo da Guerra, desembarcou nos EUA onde construiu uma notável carreira com cerca de 40 direções.

 

QUE FIM LEVARAM…

Dick Powell, após uma bem sucedida carreira com mais de 40 atuações em longas, e uma meia dúzia de filmes que dirigiu e produziu, foi uma das vítimas da chamada tragédia de “Sangue de Bárbaros”. Trata-se do título de um faroeste de 1956, rodado em Utah, num deserto onde fora realizado um teste nuclear. A radiação que permaneceu no lugar causou câncer em vários profissionais envolvidos na produção, entre eles o ator John Wayne, e o próprio Powell, diretor do filme, que morreu em 1963, aos 58 anos.

Depois de um início arrasador, atuando com destaque em mais de 20 filmes em pouco mais de 10 anos, a belíssima e marcante Lizabeth Scott optou por reduzir o ritmo de sua carreira, limitando-se a pequenas participações em TV. Versões não confirmadas dizem que ela desenvolveu um tipo de “pânico de palco”, e preferiu investir o dinheiro ganho com cinema em negócios imobiliários. Encerrou a carreira aos 50 anos de idade, com “Diário de um Gangster”(1973) e faleceu em 2015, aos 92 anos.

O canadense Raymond Burr seguiu carreira de sucesso na televisão, protagonizando os seriados “Têmpera de Aço” e “Perry Mason”. Faleceu em 1993, aos 76 anos.

Byron Barr, após atuar em 19 filmes entre 1944 e 1951, faleceu jovem, aos 49 anos, de causa não divulgada.

Jane Wyatt seguiu longa carreira no cinema e na TV, atuando em aproximadamente uma centena de produções até os anos 1990. Morreu aos 96 anos, em 2006. Seu papel mais popular foi o da dedicada mãe de família no seriado “Papai Sabe Tudo”, produzido com grande sucesso entre 1954 e 1960.

O então garoto Jimmy Hunt também seguiu carreira nas telas. Ainda que sem muito destaque, atuou em cerca de 40 filmes até os anos 1980, quando de aposentou. Seu papel mais conhecido foi na versão de 1953 de “Os Invasores de Marte”. Até o fechamento deste texto (julho de 2017) permanece vivo, aos 78 anos.