EM DVD, “O JUSTICEIRO” DENUNCIA CORRUPÇÃO POLICIAL E MANIPULAÇÃO POLÍTICA… EM 1947.

Por Celso Sabadin.

Querido por toda a comunidade de uma pequena cidade de Connecticut, o pastor Lambert (Wyrley Byrch) é friamente assassinado em plena rua principal,  aparentemente sem motivo algum.  Mesmo com sete testemunhas oculares, a polícia não consegue prender o assassino. A população se revolta, e o caso se transforma numa crise política para o procurador Henry Harvey (Dana Andrews). Às vésperas das eleições, um suspeito é preso sem provas apenas para acalmar a opinião pública. Na eterna luta entre justiça e política, Harvey é colocado no centro da roda viva dos mais sujos interesses econômicos.

Baseado em fatos acontecidos em 1924, a ideia de “O Justiceiro” (um dos destaque da caixa de DVDs “Noir 2″, da Versátil) nasceu de um artigo publicado em 1945 na revista Seleções. A narração em off que permeia todo o filme (recurso estilístico típico do filme noir e que invadiu à exaustão o cinema brasileiro atual) já explica, desde a primeira cena, que a história aconteceu em Connecticut, mas que poderia ter sido em qualquer outro lugar. Ou seja, denuncia-se que este tipo de manipulação política é típico de qualquer canto dos Estados Unidos.  O filme diz também que, na medida do possível, as filmagens foram realizadas nos locais onde os fatos realmente aconteceram.  Busca-se, assim, um realismo quase documental.

Tangencialmente, “O Justiceiro” também aborda a ingrata situação dos veteranos da Segunda Guerra através do personagem Waldon (Arthur Kennedy),  apenas um homem à procura de emprego que admite ter perdido cinco anos de sua vida profissional ao se engajar nas tropas que lutaram no conflito. O tema já havia sido abordado com contundência um ano antes, no clássico “Os Melhores Anos de Nossas Vidas”, com o mesmo Dana Andrews.

“O Justiceiro” não se propõe a ser apenas um mero “whodunit”. Pelo contrário, quem matou Lambert é o que menos importa na trama. Importam sim as denúncias de sujeira do jogo político e da manipulação da opinião pública que se cometem nos bastidores da polícia e da justiça.  O filme também traça um paralelo entra a paranoia que se estabelece na busca frenética pelo assassino (onde qualquer pessoa com casaco escuro e chapéu claro, descrição do criminoso dada pelas testemunhas, se transforma num suspeito em potencial) com a paranoia do Macartismo e da política da caça às  bruxas que os Estados Unidos conheceriam nos anos seguintes. O que não deixa de ser irônico: afinal, o próprio diretor do filme, o grande Elia Kazan, foi ele próprio acusado de ser um informante anticomunista.