EM DVD, “O ÓDIO É CEGO” É UM DOS PIONEIROS NA QUESTÃO RACIAL.

Por Celso Sabadin.

Apesar do título sugerir um filme brasileiro contemporâneo, “Ò Ódio é Cego” é uma produção de 1950. E das mais interessantes, pois é uma das pioneiras do cinema norte-americano a abordar mais aberta e intensamente a questão racial.

Dois irmãos criminosos dão entrada num hospital, após serem baleados pela polícia, durante um assalto frustrado. Um deles morre na mesa de operações, enquanto o outro, Ray (Richard Widmark) sobrevive. Começa assim uma intensa jornada de ódio incontido de Ray contra o Dr. Brooks (Sidney Poitier), o médico que atendeu o caso. Não exatamente por causa da morte do irmão, mas pelo fato do médico ser negro. A qualquer custo, Ray quer provar que o óbito foi consequência de um erro médico, o que Brooks contesta vigorosamente. A solução para esclarecer o caso seria uma autópsia, que Ray nega terminantemente a autorizar.

O filme tem argumento e roteiro de Lesser Samuels (um dos roteiristas do clássico “A Montanha dos Sete Abutres”), em parceria com Joseph L. Mankiewicz, que no mesmo ano realizou outro filme importante: “A Malvada”.  Mankiewicz roteirizou mais de 60 filmes, dirigiu 22, e conquistou oito indicações para o Oscar, tendo vencido em duas oportunidades.

“O Ódio é Cego” marca a estreia no longa metragem de Sidney Poitier, que faria muito sucesso com “Adivinhe Quem Vem Para Jantar”, “Ao Mestre com Carinho”, e vários outros. Poitier sempre ficou entra a cruz e a espada dentro da indústria cinematográfica dos EUA, pois se por um lado ele foi pioneiro em filmes contrários ao racismo, por outro lado era acusado por parte da comunidade negra de sempre fazer papeis do negro aculturado pelos brancos.

Vencedor do Oscar de roteiro, “O Ódio é Cego” pode não ser genial como outros clássicos da época, mas tem o mérito do pioneirismo dentro de um tema tão tabu para a sociedade norte-americano. Um tema que só seria mais amplamente abordado alguns anos mais tarde, dentro do que seria conhecido como “Nova Hollywood”.

O filme está no volume 12 da coleção Film Noir, da Versátil Home Video.