EM DVD, “VOAR É COM OS PÁSSAROS” REVIVE A SAUDÁVEL MOLECAGEM DA ANTIGA HOLLYWOOD.

Por Celso Sabadin.

Assistir aos filmes da caixa “O Cinema da Nova Hollyood”, recém-lançada pela Versátil Home Vídeo, é acima de tudo um ato de nostálgica liberdade. Os cinéfilos e espectadores mais jovens certamente podem estranhar o estilo dos filmes que uma nova geração de cineastas norte-americanos começou a realizar naqueles turbulentos anos 70, mas é exatamente este estranhamento a mola mestra da compreensão do cinema daquele período.

Em “Voar é com os Pássaros”, por exemplo, que o grande Robert Altman realizou em 1970, experimenta-se toda a agradável sensação que um cinema mais livre, leve e solto propunha. Como a liberdade, leveza e soltura que aquele momento histórico pedia. No roteiro de Doran William Cannon, Brewster McCloud (Bud Cort, que continua atualmente em atividade, mas cuja carreira nunca efetivamente decolou) é um jovem que dedica todo seu tempo à construção de asas mecânicas que o permitam voar. Poucas metáforas são tão representativas daquela época que o desejo de voar. Numa oficina escondida dentro de um gigantesco ginásio de esportes em Huston, ele constrói seu sonho assessorado por uma bela entidade (Sally Kellerman), parte mulher, parte pássaro, parte mágica, que fará de tudo para que ninguém se interponha no caminho do rapaz. Inclusive matar, se preciso for. E será. Tudo isso gera uma série de assassinatos na cidade, que serão investigados pelo policial Frank Shaft (Michael Murphy), especialmente trazido de San Francisco para o caso. A presença de Shaft (não confundir com o personagem John Shaft, que viraria ícone do cinema no ano seguinte, em 71) escancara a tradicional divisão de liberais contra conservadores da sociedade norte-americano, aqui representada pela rivalidade entre San Francisco (berço do movimento hippie) e Huston, no racista e reacionário estado do Texas.

“Voar é com os Pássaros” trata destes e de outros temas num clima de saudável molecagem, no melhor sentido da palavra, com humor crítico, numa Hollywood que por um momento, pelo menos por um breve momento, se desligou um pouquinho das limitações impositivas deste monstro chamado mercado e criou um estilo minimamente vanguardista, sem as formulações e as amarras que vem sufocando a criatividade do cinema norte-americano nas últimas décadas.

O filme estreou nos EUA em dezembro de 1970, menos de um ano depois da estreia de “MASH”, um dos maiores sucessos de Altman. O filme marca também a estreia cinematográfica de

Shelley Duvall que, por sinal, nasceu em Houston. “Voar é com os Pássaros está na caixa “O Cinema da Nova Hollywood”, da Versátil Home Video.