EM DVD, “VOLÚPIA DE MATAR” É INOVADOR PARA SUA ÉPOCA.

Por Celso Sabadin.

Frequentemente, “Psicose” é festejado como o primeiro e melhor filme sobre serial killers perturbados por problemas sexuais. O indiscutível clássico de Hitchcock pode ter sido de fato o melhor. Mas não o primeiro: oito anos antes, em 1952, Edward Dmytryk dirigiu “The Sniper” (traduzido no Brasil como “Volúpia de Matar”), já tratando do tema, na época, um tabu.

Simples motorista de uma lavandeira, como milhares de outros, Eddie Miller (Arthur Franz) está prestes a ser um homem perseguido por toda polícia de San Francisco. Motivo: ele é o misterioso sniper (atirador) do título original do filme que – inexplicável, aleatória e covardemente –  mata jovens morenas.

A ação violenta de Eddie não é propriamente o grande tema do filme, mas sim as suas motivações. Em abordagem ousada para a época, o argumento da dupla Edna e Edward Anhalt propõe que crimes cometidos por pessoas psicologicamente perturbadas sejam combatidos através de tratamentos médicos e internações hospitalares, e não somente com repressão policial. E que a percepção preventiva dos criminosos em potencial poderia evitar muitas mortes.

No filme, tal tese é defendida pelo personagem de um psiquiatra (Dr. Kent, vivido por Richard Kiley), que causa a indignação de políticos e de parte da polícia. A simples menção da ideia de tratar criminosos com cuidados médicos revolta a ala reacionária da política da cidade, numa das melhores cenas do filme.

Cinematograficamente falando, “Volúpia de Matar” tem realização simples e eficiente, filmado quase que totalmente em ótimas externas que se aproveita com competência das possibilidades naturais e arquitetônicas da bela cidade de San Francisco, e com ótimo ritmo de ação e suspense. A produção é de Stanley Kramer, que no mesmo ano já realizara (sem crédito) o clássico “Matar ou Morrer”, e que depois seria o responsável por grandes sucessos como “Deu a Louca no Mundo” e “Adivinhe quem Vem para Jantar”, entre outros.

Uma subtrama política da vida real traz traços ficcionais ao filme. “Volúpia de Matar” é o primeiro trabalho dirigido por Edward Dmytryk após o período de “geladeira” a ele imposto pelo infame Macartismo da época, que impedia de trabalhar os profissionais de tendências esquerdistas. Como uma espécie de “castigo”, Dmytryk foi obrigado a dirigir o ator  Adolphe Menjou, assumidamente delator de comunistas. Ironicamente, o  personagem de Menjou foi batizado de tenente Kafka…

Indicado ao Oscar de roteiro original, “Volúpia de Matar” faz parte da coleção Film Noir no. 14, da Versátil.