EM “EDIFÍCIO GAGARINE”, A TELA É AZUL.

Por Celso Sabadin.

Iuri Alexeievitch Gagarin foi, pelo menos por um período, o homem mais midiático do mundo, ao tornar-se o primeiro ser humano a viajar pelo espaço, em 12 de abril de 1961. “Viajar pelo espaço” é modo de dizer, pois Gagarin permaneceu apenas 1 hora e 48 minutos fora da atmosfera terrestre, e não foi muito longe. Porém, em tempos de Guerra Fria, qualquer vitória precisava ser ruidosamente comemorada, para efeitos de marketing, e a de Gagarin não seria exceção. Os publicitários soviéticos até inventaram uma frase de efeito/slogan para colocar em sua boca: “A Terra é azul”.

Gagarin viajou pelo mundo como herói e ganhou várias homenagens. Entre elas, a de batizar de “Cité Gagarine” um portentoso condomínio residencial em Romainville, Paris, a mais ou menos 1 hora de transporte público da Torre Eiffel. A ideia do grande edifício era a de marcar simbolicamente o poderio soviético e, consequentemente, divulgar a esquerda francesa. O tempo passou, o mundo mudou, a União Soviética entrou em colapso, o condomínio entrou em decadência e – agora – talvez precise ser demolido.

É deste ponto que parte “Edifício Gagarine”, longa que estreia no Brasil nesta quinta, 26/08. Inconformado com a demolição do lugar em que nasceu e que aprendeu a amar, o jovem Youri (o bom estreante Alseni Bathily) faz uma campanha no condomínio para que ele seja aprovado na inspeção de segurança da Prefeitura, o que poderia livrá-lo da anunciada demolição. Youri coleta dinheiro entre os moradores, compra equipamentos de segurança para o prédio, e até conserta com as próprias mãos as fiações elétricas que necessitam de reparo.

O envolvente roteiro de Benjamin Charbit, Fanny Liatard e Jérémy Trouilh parte da história verídica do condomínio para desenvolver a viagem ficcional de Youri. Cria um paralelo simbólico entre o peso da gigantesca construção e a leveza dos sonhos do rapaz, apaixonado por assuntos referentes ao espaço. Mais que um lar, o Gagarine é o seu refúgio, a sua nave, o seu meio de fuga do planeta e da realidade. A metáfora poética ganha maiores dimensões e contornos mais definidos na medida em que a trama se desenvolve, convidando o espectador à empatia fantasiosa da narrativa muito particular do protagonista.

Premiado nos festivais de Atenas e Sevilha, o longa partiu do curta “Gagarine”, realizado em 2015 pela mesma dupla de cineastas – Fanny Liatard e Jérémy Trouilh – e estreia no Brasil nesta quinta, 26/08.

 

 

26/08/2021