EM GUERRA”, A EXASPERAÇÃO DA INJUSTIÇA.

Por Celso Sabadin.

No novo capitalismo financeiro cada vez mais feroz e ensandecido por lucros, não são mais os governantes que governam, mas sim as empresas. Talvez seja esta a ideia mais marcante do eletrizante “Em Guerra”, produção francesa selecionada para a mostra competitiva principal do Festival de Cannes.

Em (mais uma) ótima interpretação, Vincent Lindon vive Laurent, um líder sindical que tenta, a qualquer custo, fazer com que os patrões do lugar onde trabalha cumpram a promessa, feita dois anos atrás, que a fábrica não fecharia pelos próximos quatro anos. Em linguagem que tangencia o documental, o roteirista e diretor Stéphane Brizé (que já havia trabalhado com Lindon no também ótimo “O Valor de um Homem”) destila fortes doses de autenticidade e dramaticidade nesta exasperante luta de David contra Golias.
Dissimulações bizarras, ironias grotescas, descasos gigantescos e hipocrisias inomináveis fazem parte das estratégias das poderosas corporações para perpetuar o estado de desespero dos trabalhadores até alcançar níveis insuportáveis. Os enquadramentos fechados e trepidantes de Brizé ajudam na criação de um clima claustrofóbico, como que sinalizando a total ausência de qualquer horizonte lógico a ser conquistado.

É a arte, tristemente, mimetizando a vida.