EM “MACHETE”, PREVALECEM O HUMOR, O SUPERLATIVO E A CRÍTICA SOCIAL.

São inúmeras as fontes de inspiração de um longa metragem. Há os baseados em livros, em peças teatrais, em ideias originais, em fatos reais, em videogames e por aí afora. Mas, pelo menos até onde eu saiba, “Machete” é o único longa baseado no trailer de um filme que nem iria ser feito.

Explicando: quando Robert Rodriguez e Quentin Tarantino criaram o projeto Grindhouse, que previa a exibição de dois longas na sequencia, como nos programas duplos dos velhos tempos, eles resolveram também produzir e exibir alguns trailers “fakes”, a título de brincadeira. Eles só não sabiam que o suposto “material promocional” do suposto filme “Machete” faria tanto sucesso que os incentivaria a realmente produzir o tal filme. E assim se fez.

Machete (Danny Trejo, perfeito para o papel) é um policial que foi dado como morto depois de medir forças com o poderoso traficante Torrez (Steven Seagal). Derrotado e solitário, ele se refugia no Texas, onde tenta levar a vida anonimamente. Até que se envolve num atentado contra o candidato ao Senado John MacLaughlin (Robert De Niro), e sua vida volta novamente a se transformar num inferno.

Bom, na verdade a história não tem quase nenhuma importância por aqui. O filme é um divertidíssimo exercício de estilo, onde o que vale é o exagero, a paródia, a comicidade construída em cima dos clichês que norteiam o gênero ação. E com um (super) heroi mexicano comandando tudo.

Machete é um Rambo latino indestrutível e sedutor. Resposta latina aos brutamontes truculentos que faziam a alegria do cinema de ação dos anos 80, e que agora retorna mais bombado do que nunca. Sem deixar de lado qualquer oportunidade de ridicularizar os preconceitos norte-americanos contra os cucarachas. É a visão do outro lado da fronteira, que se apodera dos próprios elementos do dominador para satirizá-los.

A direção de Ethan Maniquis e Robert Rodriguez visa sempre o lúdico, o alto astral, a comédia de superlativos e o escárnio social. Afinal, nada mais catártico que se divertir com um Robert De Niro ultradireitista que faria Bush parecer de esquerda. Ou uma Lindsay Lohan fazendo o papel de… Lindsay Lohan. Isso sem contar com a doce decadência de Steven Seagal e Don Jonhson e, claro, com as belas mulheres, marca registrada de Rodriguez.

Que venham mais trailers “fakes”.