EM “MEMÓRIA EM VERDE E ROSA”, O BRASIL PASSA PELA MANGUEIRA.

Por Celso Sabadin.

O que esperar de um documentário que se propõe a contar a história da Mangueira? Muita música, samba de primeira qualidade, personagens cativantes, casos interessantes.

Sim, o filme “Memória em Verde e Rosa” tem todos estes itens. Mas é muito mais que isso. Tendo a Estação Primeira da Mangueira como filtro, o documentário faz uma verdadeira radiografia do Brasil em geral e do Rio de Janeiro em particular. Mostra como este imenso talento que o nosso povo tem para a música pode, ao longo do tempo, ser dilapidado e vilipendiado por interesses econômicos. Mostra como a batida da bateria da Mangueira – criada historicamente para emular as batidas de um coração – foi modificada para atender os interesses dos conglomerados que exigiam desfiles mais “rápidos”. Mostra como as raízes de uma das principais manifestações culturais brasileiras foram contaminadas por elites que acabaram por descaracterizá-las em função de exigências mercadológicas. É um grande e importante pedaço da história do Brasil, e não apenas da história da Mangueira, que se vê em “Memória em Verde e Rosa”. Um dos sambistas da velha guarda explica, durante o filme: se você quiser acabar com alguma coisa, não a censure, não a proíba: apenas se infiltre e a destrua por dentro. Pode um pensamento ser mais atual?

Mas é claro que o filme também traz o lado positivo e alto astral de toda esta trajetória, seja através de históricos depoimentos de Cartola, seja via o delicioso inventário musical que perpassa toda a narrativa, ou do painel sociocultural que emoldura décadas da inominável riqueza poética que emana do carnaval carioca. Tudo costurado por belas, simples e sensíveis imagens da região do Morro da Mangueira.

Ao som de canções marcantes como “Linguagem do Morro” e “Exaltação à Mangueira”, conhecemos mais do morro símbolo do Rio de Janeiro que, ao longo de mais de 80 anos, tornou-se um lugar de referência para a história do samba. Além do compositor Tantinho, o documentário conta com as presenças do lendário mestre-sala Delegado, de Suluca, baiana mais antiga da agremiação, dos compositores Nelson Sargento, Hélio Turco, dos percussionistas Carlinhos do Pandeiro, Jaguara e, através de um rico material de arquivo, traz nomes como Geraldo Pereira, Nelson Cavaquinho, Padeirinho e muitos outros. 

A direção é do soteropolitano Pedro von Krüger, o mesmo de “Estrada de Sonhos” e “Pulmão da Arquibancada”O filme já está em cartaz no Rio de Janeiro e estreia em São Paulo em 13 de abril.