EM “O MAU EXEMPLO DE CAMERON POST”, O TEMA É MELHOR QUE O FILME.

Por Celso Sabadin.

A arte proporciona as mais variadas camadas de leitura. O cinema não é diferente. Cabe ao crítico tentar decifrá-las, desvendá-las, ou ater-se a uma ou duas delas para aprofundar sua análise. É muito comum, por exemplo, que filmes medianos recebam enxurradas de elogios e premiações pelo fato de tratar de temas importantes, mesmo não apresentando muitas qualidades artísticas e/ou cinematográficas. Faz parte da leitura da obra.

“O Mau Exemplo de Cameron Post” é um caso marcante em que o tema abordado é mais importante que a obra que o representa. Ganhador do Grande Prêmio do Júri no Festival de Sundance, o filme é baseado no livro homônimo de Emily M. Danforth, e traz à tona ao grande público (pelo menos o cinematográfico) o contundente tema da chamada “cura gay”. Ou seja, de linhas de pensamento (ou linhas de falta de pensamento, por assim dizer), que consideram a homossexualidade uma doença a ser tratada.

A roteirista e diretora estreante em longas Desiree Akhavan situa a ação nos anos 1990, quando a jovem Cameron (Chloë Grace Moretz, também em cartaz com o remake de “Suspiria”) é enviada a uma, digamos assim, “clínica de reabilitação para homossexuais”, onde será “doutrinada” e “tratada” para retornar à “normalidade”.  Como não poderia deixar de ser, o tal “tratamento” contra a doença que no lugar é hipocritamente diagnosticada como SSA (Same Sex Atraction) não tem como funcionar.

Como denúncia e contemporaneidade do tema, “O Mau Exemplo de Cameron Post” é interessante e sintonizado com os tempos atuais. Como cinema, deixa muito a desejar ao optar por tratar do assunto com superficialidade, provavelmente em busca de um público mais amplo.