EM “RINDO À TOA”, O BRASIL É SÓ RIO E SÃO PAULO.

Por Celso Sabadin.
Após o bom e necessário “Tá Rindo de Quê?”, documentário que aborda o humor na época da ditadura de 1964, o trio de diretores formado por Claudio Manoel, Álvaro Campos e Alê Braga lança agora “Rindo à Toa”, longa que aborda novamente o tema do riso, desta vez, porém, focado no período que vai do movimentos Diretas-Já até o final do século 20.
 
Como quase sempre acontece no mundo do cinema, a continuação é bem inferior ao primeiro filme. Demonstrando, digamos, uma certa “preguiça”, o filme tem sérios erros de enfoque e várias barrigas de edição. Em primeiro lugar, o recorte: quem não viveu a época sairá do filme com a impressão que naquele período só se fazia humor no Rio de Janeiro (principalmente) e (um pouco) em São Paulo. E mais: quase sempre na Globo. O restante do país – e das mídias – é bastante ignorado, ainda que o material promocional informe que a obra mostra “o estilo da comédia praticada no Brasil”.
 
A edição deixa fluir, muitas vezes desnecessariamente, longas conversas pouco frutíferas, principalmente entre os comediantes da turma do Casseta & Planeta, dando ao longa muito mais um caráter arrastado de papo de boteco entre amigos que propriamente do documentário a que se propõe. Há algumas falhas graves de pauta, como por exemplo sequer citar o grupo Língua de Trapo, importantíssimo na cena cômica paulistana do período (embora uma de suas músicas seja ouvida rapidamente ao fundo de uma cena), e dar grande destaque para o “Ultraje a Rigor”, que dificilmente pode ser considerado como um grupo de humor. Os depoimentos do vocalista Roger, inclusive, marcam um grande momento de constrangimento dentro do documentário, pois paira sobre a cena uma dúvida se o depoente estaria sóbrio ao gravar suas falas.
Fica uma decepcionante sensação de desperdício de um ótimo tema, num filme abaixo da média dos bons documentários recentemente lançados em parceria e coprodução com a Globo News.