“EM TEU NOME” MOSTRA OS ANOS DE CHUMBO DA DITADURA, SOB O PONTO DE VISTA GAÚCHO.

A prática leva à perfeição. Ou, pelo menos, ao aperfeiçoamento. O velho ditado se aplica muito bem à carreira do diretor gaúcho Paulo Nascimento, que felizmente tem tido a oportunidade de treinar com constância e eficiência o seu ofício de cineasta e, com isso, vem obtendo resultados cada vez mais positivos.

Mesmo porque, no Brasil, não é qualquer um que consegue fazer três longas de ficção em apenas cinco anos. Nascimento estreou no longa apresentando “Diário de um Novo Mundo”, com Daniela Escobar e Edson Celulari, no Festival de Gramado de 2005. Dois anos depois, no mesmo evento, mostrou “Valsa Para Bruno Stein”, com Walmor Chagas e Ingra Liberato. E, no ano passado, também em Gramado, exibiu “Em Teu Nome”, que chega agora ao circuito comercial. Analisando os três filmes, é impossível não notar – e aplaudir – a evolução do diretor.
Perceba-se que deixamos de lado, aqui, o infantil “A Casa Verde’, do mesmo diretor. Vamos considerá-lo como um acidente de percurso, mesmo porque só erra quem faz.

Com locações em Paris, Chile e Marrocos, “Em Teu Nome” é, até o momento, o seu trabalho mais maduro. A trama é ambientada nos anos de chumbo da ditadura brasileira, momento em que parte da sociedade tentava – sem muito sucesso – se organizar para resistir. Entre estas pessoas estava Boni, um estudante de engenharia de origem humilde que, se por um lato se engaja na luta armada, por outro traz dentro de si várias dúvidas e medos não só em relação a ele próprio, como também em relação àqueles que ama.

O roteiro é baseado na história real de João Carlos Bona Garcia, um jovem que, como vários de sua época, amava os Beatles, os Rolling Stones, entrou na luta armada, foi preso, torturado e banido do país.

Não se trata, como poderia se supor, de um filme panfletário, mas sim de uma reflexão afetiva daquele período tão conturbado da nossa história. Nascimento prefere o Humano ao Político, e, sem esquecer o Social, acaba realizando uma equilibrada e envolvente mistura de romance e luta política.

Pode-se até questionar – aqui e ali – um uso excessivo de diálogos e trilha sonora, mas são pecados menores dentro de uma obra em evolução.

Que venha o próximo filme!