EMBATE DE IDÉIAS É O PONTO ALTO DE “DIPLOMACIA”.

Por Celso Sabadin.

Basear todo um filme numa peça de teatro sempre é um desafio perigoso: as dinâmicas das duas linguagens são diferentes, e o que funciona bem no palco muitas vezes pode não funcionar bem na tela. Para um filme baseado em peça teatral ter bons resultados na tela, é preciso, antes de mais nada, um texto de muita qualidade, além, é claro, de uma direção segura.

A coprodução franco-alemã “Diplomacia” consegue obter um resultado razoável nestesentido. Não chega a ser memorável, mesmo porque não há segredo algum em seu desfecho, historicamente conhecido, mas não deixa de apresentar um intrigante   embate de ideias.

A partir de acontecimentos reais, o francês Ciryll Gély (autor também do texto que originou o filme “Chocolate”) escreveu em 2011 a peça teatral “Diplomatie”, ambientada na madrugada de 24 para 25 de agosto de 1944. É neste momento que as tropas aliadas estão prestes a retomar Paris das mãos dos nazistas, já conscientes que não terão condições bélicas suficientes para resistir. O plano de Hitler, então, é destruir totalmente a Cidade Luz, como vingança. Entra em cena o cônsul da Noruega Raoul Nordling (André Dussollier), disposto a utilizar todos os argumentos possíveis e impossíveis para tentar convencer o general Dietrich von Choltitz (Niels Arestrup) a não cumprir as ordens do F6uhrer, sob pena de passar para a História como o homem que destruiu uma das mais belas cidades da Humanidade, e matou mais de 2 milhões de parisiense. Toda a estrutura do filme é baseada neste grande diálogo noturno onde são discutidas questões como ética, honra, humanidade, militarismo, lealdade, crueldade e várias outras.

Nem sempre o diálogo tem força suficiente para se sustentar na tela, mas a reduzida duração do filme (menos de 90 minutos) e as duas ótimas interpretações acabam produzindo um resultado satisfatório.

“Diplomacia” foi selecionado para o Festival de Berlim e venceu o César de Roteiro Adaptado. Pode não estar entre os trabalhos mais empolgantes do diretor Volker Schlöndorff (o mesmo de “O Tambor”), mas é no mínimo interessante ver, após sete décadas, alemães e franceses realizando um filme sobre um dos mais marcantes episódios da vida dos dois países.