EMOCIONANTE, “CATIVAS” ABORDA A SOLIDÃO FEMININA DO UNIVERSO CARCERÁRIO.

Por Celso Sabadin

Um tema espinhoso, difícil, com grandes possibilidades de cair ou na mesmice ou no piegas: mulheres de presidiários. Admito que foi com um certo receito que comecei a assistir ao documentário “Cativas – Presas pelo Coração”, cuja proposta era exatamente a de mergulhar na dificuldade deste assunto. Meus medos se dissiparam muito rapidamente: o roteiro de Joana Nin e Sandra Nodari, aliado à direção de Joana, logo sinalizaram terem trilhado por opções das mais acertadas.

A escolha das personagens – precisa e eficiente – e o tom alcançado pela direção – digno e incisivo – fizeram de “Cativas – Presas pelo Coração” um documentário que consegue aliar a dureza do tema à doçura da situação que o permeia. Tudo com fortes doses de afetuosidades e emotividade. O que, convenhamos, não é nada fácil. E mesmo correndo o risco de perpetrar aqui um comentário machista, tais méritos só seriam de fato alcançados por um filme de alma feminina, como este, onde as mulheres dominam tanto o roteiro, como a direção e a produção, incluindo a montagem de Joana Berg, de vasta experiência nos filmes de Eduardo Coutinho.

“Cativas” se concentra na vida de sete mulheres com histórias bem diferentes, mas que trazem em comum a perseverança, a dedicação e a esperança de constituir uma família do lado de fora do presídio. Andrea escolhe seu vestido de noiva. Kamila luta por cinco meses até conseguir os documentos e ser autorizada a visitar o namorado na cadeia. Simone sofre com o companheiro viciado em crack, mas não desiste. Eliane trabalhava no conselho tutelar quando se apaixonou por um menino de 14 anos de idade, 22 anos mais novo que ela. Largou marido e filhos para fugir com ele. Malu reencontrou o pai de sua filha dez anos depois e finalmente casou-se com o amor de sua vida, mas agora não pode viver ao lado do marido. Camila não pôde vivenciar sua gravidez ao lado do pai do bebê. Cida sofreu uma séria desilusão com o homem por quem era apaixonada. São diferentes fases de romances, mas todos com o ambiente do cárcere em comum.

O material de imprensa informa ainda que a pesquisa para o filme durou 12 anos, e teve em uma primeira etapa um curta de sucesso, o premiado “Visita Íntima”.

“Cativas” esteve na seleção oficial do Festival de Estocolmo 2014 e na seleção especial da Première Brasil Berlim 2014, além de ter recebido menção honrosa do júri oficial do Festival do Rio 2013. O filme participou ainda de mercados internacionais de destaque, como o Ventana Sur, na Argentina, DocMontevideo, no Uruguai e IDFA, na Holanda.