EMPOLGANTE, “DECISÃO DE RISCO” DISCUTE A ÉTICA DA GUERRA. SE É QUE ISTO EXISTE. 

Por Celso Sabadin

Não faz tanto tempo assim, há menos de 20 anos, vi um filme chamado “Inimigo do Estado” (com Gene Hackman e Will Smith), em que as ferramentas de espionagem à distância, através de satélites, pareciam na época coisa da mais avançada ficção científica. Hoje, a tecnologia que o filme exibia está disponível em qualquer GPS. Ao ver “Decisão de Risco”, revivi a mesma sensação que tive na ocasião de “Inimigo do Estado”: será que toda aquela parafernália de espionagem à distância já é realidade e está sendo utilizada? Será que já existem câmeras escondidas em besouros eletrônicos comandados por controle remoto?

No roteiro original que Guy Hibbert escreveu para “Decisão de Risco”, os altos comandos norte-americano e britânico desenvolvem uma ultra-secreta operação para capturar, se possível, ou matar, se inevitável, alguns dos mais procurados terroristas em operação na África. Eles são localizados em Nairobi, num bairro fortemente dominado por milícias, o que torna a operação inviável por via terrestre. A solução então seria bombardeá-los através de um avião não tripulado, mas os problemas não são poucos. Primeiro, como lançar um míssil num país que não está em guerra nem com britânicos, nem com norte-americanos? Quais seriam os procedimentos legais e diplomáticos para isso? Quais as decisões militares envolvidas? Se tudo já parece complicado o suficiente, a situação piora quando uma garotinha instala, bem ao lado do alvo, sua singela banca de venda de pães caseiros. A simples imagem da menina no meio da zona de risco desencadeia uma crise moral, ética e estratégica que vai atingir os mais altos escalões das maiores potências mundiais.

Ficção? Talvez nem tanto. Basta lembrar que no ano passado, 2015, um drone norte-americano virou manchete mundial ao destruir um hospital afegão e matar vários inocentes. E o roteiro de Hibbert já estava pronto desde 2008, sem conseguir financiamento para ser produzido. Não é uma questão da arte imitar a vida, nem da vida imitar a arte, mas sim de ter percepção e sensibilidade para saber captar os mais variados assuntos em pauta no mundo atual.

Do ponto de vista cinematográfico, “Decisão de Risco” é um thriller dos mais empolgantes, que discute fundamentais questões de ética e política, além de escancarar a fragilidade do ser humano diante de máquinas de guerra simplesmente impensáveis para a grande maioria dos mortais. Não bastasse a qualidade do roteiro e a segurança da direção do sul-africano Gavin Hood, o filme ainda traz um eletrizante embate de interpretações entre Helen Mirren e Alan Rickman, aqui em seu último papel.

A produção é britânica e as locações foram realizadas na Cidade do Cabo, África do Sul. Estreou em 7 abril.