ENTENDENDO O UNIVERSO CAÓTICO DE “TORO” E “HECTOR”.
Por Celso Sabadin.
Num mercado cinematográfico repleto de lançamentos (são mais de 400 por ano no circuito comercial brasileiro), fora as mostras, festivais e eventos especiais, muitas vezes fica difícil perceber alguns interessantes experimentos de formatos e linguagens que têm sido feitos no audiovisual brasileiro.
Digo isso em função do lançamento simultâneo, nesta quinta, 24, de dois longas metragens brasileiros, digamos, irmãos: “Toro” e “Hector”, ambos dirigidos por Edu Felistoque. Para curti-los melhor, é preciso conhecer a gênese destes dois filmes.
Tudo começou em 2010, com o seriado de TV “Bipolar”, que mostrava o dia-a-dia de uma agitada delegacia de polícia paulistana. Entre os seus personagens principais estavam a jovem e inexperiente delegada Diana (Sílvia Lourenço), e os investigadores Carlão (Rodrigo Brassolotto) e Latrina (Sergio Cavalcanti). No mesmo ano, é lançado no cinema o longa “Inversão”, também policial , com alguns pontos tangenciais a “Bipolar”: entre eles a direção e a coprodução de Felistoque, e o mesmo personagem Carlão, ainda que num momento diferente de sua vida e de sua carreira. Quatro anos depois, o lançamento em cinema de “Insubordinados” nos dá uma nova visão da delegada Diana, agora internada num hospital, escrevendo suas memórias. Através de flash-backs, compreende-se sob um novo prisma e com novas revelações alguns dos fatos relatados em “Bipolar”. Além de voltar a viver o papel de Diana, Sílvia Lourenço também é a roteirista do filme, o que confere ao longa uma visão mais feminina e intimista. “Insubordinados” seria a primeira parte do que Felistoque chama de Trilogia da Vida Real.
Tal trilogia é finalizada, agora, em 2016, com os lançamentos, também em cinema, dos longas “Toro” e “Hector”, que enfocam dois dos personagens principais de todo este universo policial iniciado em 2010. Isto porque “Toro” é o apelido do investigador Carlão, enquanto “Hector” é o nome verdadeiro de seu colega de polícia apelidado Latrina, que conhecemos em “Bipolar”. Com estes dois filmes, completa-se o entendimento das trajetórias deste núcleo central de personagens, ao mesmo tempo em que se delineia o quebra-cabeças proposto por Felistoque há seis anos.
O projeto é dos mais interessantes, na medida em que se insere com muita contemporaneidade neste instigante momento revolucionário da comunicação audiovisual, no qual estão definitivamente borradas as antigas fronteiras entre o filme de cinema e o seriado de TV. São quatro longas e uma série através dos quais seus personagens transitam com desenvoltura, subvertendo tempos lineares, desafiando espaços cênicos, e traçando, através de seus vários arcos dramáticos, um belo painel psicológico destes profissionais que tiram do cotidiano policial seus sustentos e suas loucuras.
Todos os filmes têm uma pegada eminentemente urbana, tratam a cidade de São Paulo como um personagem ao mesmo tempo lírico e cruel, capricham na fotografia e na montagem, e entregam excelentes interpretações do elenco principal. Não é necessário assistir todos os filmes anteriores para compreender “Toro” e “Hector”, mas a visão da obra como um todo caba sendo mais prazerosa.
Após seis anos investigando as vidas de policiais, delegados e bandidos, Felistoque dá uma pausa no tiroteio e dedica-se agora à finalização de um novo longa de temática diametralmente oposta, que tratará do universo da música e da poesia. Voltaremos ao assunto quando tivermos mais informações.
Hector
Distribuição:
Polifilmes
Data de estreia:
qui, 24/11/16
País:
Brasil
Gênero:
drama
Ano de produção:
2016
Duração:
86 minutos
Classificação:
16 anos
ficha técnica
Direção:
Edu Felistoque
Elenco:
Sergio Cavalcante
Eucir de Souza
Rodrigo Brassoloto
sinopse
Uma viagem entre o passado e o presente da personagem pergunta: o que nos move? Um dos filmes da Trilogia da Vida Real.
Toro
Distribuição:
Polifilmes
Data de estreia:
qui, 24/11/16
País:
Brasil
Gênero:
drama
Ano de produção:
2016
Duração:
83 minutos
Classificação:
16 anos
ficha técnica
Direção:
Edu Felistoque
Elenco:
Rodrigo Brassoloto
Naruna Costa
Ronaldo Lampi
sinopse
Múltiplas interpretações de temas atuais em diversas camadas. Uma delas, a intolerância e suas verdadeiras causas. Um dos filmes da Trilogia da Vida Real.