“ENTERRADO VIVO” SUFOCA COM TALENTO E CRIATIVIDADE.

Provavelmente você lerá muita coisa sobre “Enterrado Vivo”. Principalmente que o filme não é indicado para quem tem claustrofobia. Faça um favor a você mesmo: acredite em tudo que ler. O filme é realmente de tirar o fôlego. E isso não é força de expressão.

Toda a ação (toda mesmo!) se passa num caixão sob a terra, onde o motorista de caminhão Paul (Ryan Reynolds, que intepretará o Lanterna Verde no próximo ano) foi, como diz o título do filme, enterrado vivo. Ao lado dele, apenas um isqueiro e um celular. Por que? Por quem? Para que? Estas e outras perguntas serão respondidas lenta e desesperadoramente até o final da projeção.

“Enterrado Vivo” radicaliza ao extemo a chamada Lei das Três Unidades do Teatro Clássico, que teoriza sobre o conceito de um tempo, um espaço e uma ação. Aqui, temos um tempo único, corrido e real de 90 minutos, o espaço ínfimo de um caixão de madeira, e a ação desesperada da luta pela sobrevivência. Que passa pelo conceito da consciência ou não do que está acontecendo.

Haja talento para, em tempos de alucinógenas viagens virtuais, segurar a atenção do público dentro deste conceito tão espremido. E talento não faltou nem ao roteirista Chris Sparling (aqui no seu segundo longa), tampouco ao diretor espanhol Rodrigo Cortés (coincidentemente também em seu segundo longa como diretor). Como não poderia deixar de ser, trata-se de um filme limítrofe, sob todos os aspectos. Uma pequena escorregada poderia ser fatal às pretensões dramáticas da obra. Felizmente, o tropeço não acontece.
O roteiro é bem estruturado, bem amarrado e bem resolvido da primeira á última cena, revelando em tempos precisos as resoluções da trama. A interpretação de Reynolds explora a exasperação na medida correta, enquanto a direção de Cortés conduz todas as variáveis com precisão milimétrica. Com exceção talvez de um ou dois momentos em que a câmera se permite um respiro estilístico para “fora” do caixão, quebrando a ilusão por alguns segundos.

Coproduzido por Espanha, EUA e França e rodado em apenas 17 dias, “Enterrado Vivo” levou o prêmio de melhor roteiro pela Associação dos Críticos dos EUA.

Respire fundo e confira.