“ENTRANDO NUMA FRIA MAIOR AINDA COM A FAMÍLIA” REQUENTA AS PIADAS DA FAMÍLIA FOCKER.

Quem trabalha na área já sabe: quando a própria distribuidora opta por não exibir antecipadamente um filme para a imprensa, isso é sinal que o tal filme não tem qualidades. Afinal, ninguém esconde coisa boa. Assim, quando a Paramount anunciou o lançamento no Brasil de “Entrando Numa Fria Maior Ainda com a Família” sem sessões prévias para os jornalistas, o mercado entendeu o recado: provavelmente, seria uma bomba.
O problema porém é que a Paramount, quando se trata de cinema, está longe de ser uma distribuidora perspicaz. E o filme não é tão ruim assim. Ou, pelo menos, não é tão ruim quanto a sua própria distribuidora julgou ser, a ponto de escondê-lo da imprensa.

Ele tem bons e maus momentos. É irregular, oscilante. É hilariante, por exemplo, quando Greg (Ben Stiller) se assume como o novo chefão da família Fornika (ou Focker, no original), e passa a agir como o Don Corelone do classico de Coppola. É muito boa também a sátira/crítica feita às escolas que querem transformar qualquer criança num super gênio competitivo para o mercado de trabalho. Mas há também momentos do mais chulo humor que fazem questão de ofender o bom gosto do público, como uma ereção explícita de Jack (Robert De Niro) e uma cena onde um paciente é submetido a uma sonda anal. Ânus, pênis, ereções, sexo, vômitos… sempre os velhos tabus que a sociedade americana não consegue superar, e tenta exorcizá-los num humor de gosto mais do que duvidoso, buscando o riso através do nervosismo. Doentio, mas eficaz: o filme já faturou mais de US$ 120 milhões somente no mercado americano, apenas em suas três primeiras semanas de exibição.

O maior problema de “Entrando Numa Fria Maior Ainda com a Família” é o seu sabor de piada esticada, de humor requentado. O primeiro episódio, explorando o eterno conflito entre sogro e genro, foi um sucesso. O segundo já não tinha muito mais a dizer, e foi turbinado com novos personagens, E este terceiro perde ainda mais o fôlego. Fica visivel na tela, por exemplo, o fato de Dustin Hoffmann ter aceitado fazer o filme somente quando tudo já havia começado: seu personagem entra claramente forçado dentro da trama, sem função. A participação de Barbra Streisand também soa gratuita, da mesma forma que o roteiro parece ter sido jogado fora no meio de todo o processo.

Restam momentos divertidos esparsos, uma piada boa aqui e outra ali. Não é em um grande filme, nem a bomba que a Paramount preconizou.

Para os cinéfilos de carteriniha, vale rever, juntos, Robert De Niro e Harvey Keitel, a grande dupla dos clássicos “Caminhos Perigosos” e “Taxi Driver”, de um época em que De Niro não precisava exibir ereções na tela do cinema…