ENTRE ERROS E ACERTOS, “NOTRE DAME” DIVERTE.

Por Celso Sabadin.

Já faz um bom tempo que vivemos em um momento cinematográfico no qual predominam as regras. Da mesma forma que Hollywood não se cansa de formatar e reformatar suas fórmulas de sucesso popular, o chamado “cinema de arte” (não curto muito a expressão, mas vá lá) também já se rendeu faz tempo a formatações consagradas para ganhar festivais.

Resumindo, na maior parte deste nosso querido planeta cinema, o medo de errar fala mais alto que a vontade de criar.

Por isso acabei gostando – até mais do que pensava – da comédia romântica “Notre Dame”, que estreia nesta quinta, 11/02. Não que seja um grande filme (não é mesmo), mas pelo menos ele tenta. Acerta aqui, erra ali, mas pelo menos tenta.

Sem apego ao discurso realista e à verossimilhança, “Notre Dame” mostra o agitado cotidiano de Maud Crayon (Valérie Donzelli, também diretora do filme), uma arquiteta com dificuldades para administrar as várias exigências de um patrão abusivo, de dois filhos pequenos, de um novo pretendente, e de um ex-marido que não é tão “ex” assim.

Até que de repente, num passe de mágica, ela vence um importante concurso da Prefeitura de Paris, e do dia para noite está à frente do megaprojeto milionário de revitalização da esplanada situada diante da Catedral de Notre Dame. Sua vida, então… só piora.

Com roteiro da própria diretora e atriz principal, em parceria com Benjamin Charbit, “Notre Dame” não tem medo de parecer tão perdido quanto sua protagonista. Segue a linha da comédia de costumes, ao mesmo tempo em que interrompe a narrativa para tentar uma pegada de teatro musical, envereda sem cerimônia pela fantasia, critica com humor o conservadorismo e o mau humor parisienses, destila situações cômicas nem sempre claras para quem não é francês, apresenta diálogos divertidos, e tudo isso em ritmo que não permite sequer que a protagonista troque de roupa durante o filme – quase – inteiro.

Entre erros e acertos, “Notre Dame” acaba divertindo de forma bastante leve e descompromissada, e talvez por isso mesmo tenha se configurado em um dos destaques do Festival Varlix de Cinema Francês 2020.