ENTRE ERROS E ACERTOS, “UM HOMEM ENTRE GIGANTES” ABORDA UM ASSUNTO VIBRANTE.  

Por Celso Sabadin.

“Gastamos milhões num estádio enquanto continuamos fechando escolas e aumentando impostos”. Por mais que soe brasileira, esta frase está num filme coproduzido por Estados Unidos, Inglaterra e Austrália que conta uma história real protagonizada por um médico nigeriano acontecida nos bastidores do futebol americano.  O filme é “Um Homem Entre Gigantes”, segundo longa do diretor Peter Landesman, depois de “JFK, A História Não Contada”.

O tema é dos mais interessantes, e enfoca uma discussão que está longe de terminar: as sequelas que os violentos choques entre jogadores de futebol americano provocam a longo prazo em seus cérebros. Não por acaso, a tradução literal de seu título original seria “Concussão”. O assunto inclusive recentemente se estendeu também ao nosso futebol, que eles chamam de “soccer”. O ponto de partida é o artigo “Game Brain”, da jornalista Jeanne Marie Laskas, publicado em 2009 na revista GQ, e roteirizado pelo próprio diretor.

A partir de casos reais, o filme começa com a chocante noticia da morte de Mike Webster (David Morse, ótimo como sempre) um famoso jogador de futebol americano que vivia como indigente, após violentas crises psicóticas. A autópsia do ex-ídolo acaba caindo nas mãos do Dr. Bennet Omalu (Will Smith, também ótimo, o que não é novidade nenhuma), um especialista que tem o estranho hábito de “conversar” com os seus autopsiados. E ele logo percebe algo estranho no caso.

Tem início assim a boa e velha batalha – que o cinema adora – dos gigantescos interesses comerciais dos empresários do esporte contra os simples interesses de quem luta apenas pelos valores humanos, tudo isso agravado pelo fato do Dr. Omalu ser nigeriano, o que o coloca no centro dos mais variados preconceitos.

O tema é vibrante, atual e fascinante, até pelo aspecto de inconclusividade que carrega até hoje. A denúncia contra os donos do poder permeia todo o roteiro. A produção é das mais caprichadas e o elenco é impecável. Mas há um porém que por vezes incomoda: sua profunda ausência de criatividade narrativa, onde tudo segue a mais convencional das cartilhas da dramaturgia pra lá de clássica, sem uma inspiração efetivamente cinematográfica.

Destaque-se ainda uma intrigante incoerência interna de seu roteiro que, se por um lado combate abertamente os preconceitos sofridos pelo médico nigeriano, por outro lado valida uma cena preconceituosa contra os mexicanos, quando zombam de um médico pelo fato dele ser formado em Guadalajara. São dois pesos e duas medidas.

Mas, relevando-se estas questões, “Um Homem Entre Gigantes” é um filme que se acompanha com interesse. E, voltando à frase que abre este texto, o filme também ajuda a desmontar, mais um vez, a tese viralata que “tem coisas que só acontecem no Brasil”.

A estreia é nesta quinta, 3 de março.