“ENTRE LAÇOS”, COM A DELICADEZA À FLOR DA PELE.

Por Celso Sabadin.

Em meio ao caos de violências, brutalidades e intolerâncias que invade nossos cinemas (e nossas vidas, claro), deparar-se com uma preciosidade como “Entre Laços” chega a ser uma bênção.

Sensibilidade à flor da pele, delicadeza cada vez mais rara no cinema atual, e uma notável capacidade de abordar com leveza (e até humor) um tema dos mais doloridos fazem do filme um dos melhores deste ano que ainda nem chegou na metade.

“Entre Laços” é o primeiro longa da roteirista e diretora Naoko Ogigami a estrear no restrito circuito comercial brasileiro. Antes tarde do que nunca. A trama gira em torno de Tomo (Rinka Kakihara, ótima), que com apenas 11 anos de idade é obrigada a administrar a irresponsabilidade da própria mãe, que repetidamente a abandona para viver suas aventuras pessoais. Até o dia em que a menina – cansada e machucada pela solidão e abandono – passa a viver com o tio Makio (Kenta Kiritani). A questão é que a namorada do tio é a transgênero Rinko (Toma Ikuta), o que pode levantar uma série de preconceitos e estranhamentos. Ou não?

A luta pelos direitos dos transgêneros, a intolerância da sociedade, o abandono maternal, estes e todos os demais temas, principais ou subjacentes, que o filme aborda tornam-se até menores diante da sobriedade, da elegância e da sensibilidade poética da direção. E a trama se desenvolve delicadamente como o tricô que, simbolicamente, une com paciência e afeto os principais personagens do filme.

Ogigami em particular e o cinema japonês em geral dão aqui mais uma prova que, no cinema, também menos é mais. “Entre Laços” estreia em 17 de maio.