ÉPICO E INTIMISTA, “O DESTINO DE UMA NAÇÃO” CONDENA A COVARDIA POLÍTICA.   

Por Celso Sabadin.

Os bastidores do poder que envolvem grandes decisões políticas e estratégicas geralmente rendem bons filmes. Principalmente quando o assunto é a sempre fascinante Segunda Guerra, um evento que mudou o mundo e sobre o qual até hoje se fazem novas descobertas históricas. Neste sentido, “O Destino de uma Nação” já nasce clássico ao enfocar, com rara felicidade, altíssimo nível de produção e forte carga emocional uma parte (bem pequena) da trajetória de Winston Churchill (outro show de Gary Oldman), o primeiro ministro da Inglaterra que ninguém queria.

Porém, o filme é muito, mas muito mais que “apenas” uma belíssima obra sobre um episódio histórico. O excelente roteiro de Anthony McCarten (o mesmo de “A Teoria de Tudo”) abre espaço para uma discussão que ultrapassa os limites da Segunda Guerra e encontra fortes ecos até os dias de hoje: a eterna luta entre o libertário e conformismo. No dizer do protagonista, países que caíram lutando se reconstroem, enquanto os que se entregam mansamente estão eternamente fadados à mediocridade. O mesmo se pode dizer das pessoas: fazer pactos e supostos acordos de paz com o oponente inescrupuloso é um caminho sem volta para a obscuridade vazia. Seja na Alemanha de Hitler ou no Brasil de Temer, a História é implacável com os covardes.

Produzido pela Inglaterra, “O Destino de uma Nação” forma uma trilogia involuntária com os recentes “Dunkirk” e “Churchill”, ambos lançados no ano passado. Se o badalado “Dunkirk” se concentra no ponto de vista dos soldados acuados à espera de um resgate no litoral francês (episódio-chave em “O Destino de uma Nação”), “Churchill” mostra um fragilizado primeiro ministro britânico colocado à deriva do poder durante os preparativos para o Dia D, quatro anos depois dos fatos relatados no filme interpretado por Gary Oldman. Aliás, é possível fazer um estudo dos mais fascinantes sobre a Segunda Guerra através dos inúmeros filmes já feitos sobre ela. Material não faltaria.

A direção de “O Destino de uma Nação” é de Joe Wright (da versão 2005 de “Orgulho & Preconceito”), que consegue um ótimo equilíbrio entre o épico retumbante do contexto e o intimismo humanístico do protagonista,sempre apoiado pela fotografia nunca menos que deslumbrante do francês Bruno Delbonell (de “O Fabuloso Destino de Amèlie Poulain”). Talvez a trilha do italiano Dario Marianelli soe por vezes excessiva, o que seria apenas um imperceptível pecado menor neste filme que já tem tudo para ser um dos melhores do ano.

“O Destino de uma Nação” estreou nesta quinta, 11/01.