EROTISMO E URGÊNCIA MARCAM O BELO ESPANHOL “UM QUARTO EM ROMA”.

A fórmula não é exatamente uma novidade. Criar todo um filme totalmente centralizado na situação “um casal, uma noite, um quarto” já foi feito pelas produções brasileiras “Incuráveis” e “Entre Lençois”, e pelo chileno “Na Cama”, só para citar alguns exemplos mais recentes. Quando bem realizada, a ideia funciona.

E não há como negar que o espanhol Julio Medem é um excelente realizador. Roteirista e diretor de grandes filmes como “Lucia e o Sexo” e “Os Amantes do Círculo Polar”, Medem destila agora suas costumeiras doses de erotismo no belo e sensível “Um Quarto em Roma.”

Uma mulher espanhola (Elena Anaya) e uma russa (Natasha Yarovenko) caminham de madrugada pelas ruas de Roma. Logo ficamos sabendo que aquela é a última noite de ambas na cidade. A espanhola convence a russa a subirem juntas para o tal quarto do título do filme. É onde terá início uma noite inesquecível, onde duas pessoas que sequer se conheciam há poucas horas entrelaçam, suas vidas, esperanças, sonhos, suas verdades e mentiras emolduradas por uma atmosfera de romance e sexo.

Há um certo tom de urgência, desespero e escapismo nestas duas mulheres que sabem que deverão retomar os rumos de suas vidas (talvez aborrecidas) logo na manhã seguinte. Ou não. Enquanto isso, criam para a companheira – e para si próprias – histórias dignas de uma Sherazade. Montam dentro do quarto realidades próprias e fantásticas. E, ungidas pelo sexo incessante, embarcam em viagens alucinantes nas quais elas próprias acabam acreditando. Talvez.

Só há três saídas para o mundo fora do quarto: a janela real, a janela virtual da internet, e a presença ocasional de um charmoso camareiro italiano (Enrico Lo Verso) que se diverte cantando árias de óperas. Um personagem tão onírico e irreal quando as irrealidades dos universos das mulheres, sobre as quais teremos dúvidas até em relação a seus verdadeiros nomes.

Mesmo porque “Um Quarto em Roma” não é um filme sobre certezas, mas sobre dúvidas. Sobre duas almas que vislumbram, na noite final, um lampejo de total libertação.

Com direção de arte elaborada e fotografia refinada de Álex Catalán, lamenta-se apenas que as legendas brancas se percam totalmente diante do fundo igualmente branco, em várias cenas importantes.

Confira o trailer: