“ERVAS SECAS”, ENTRE A BELEZA E O EXCESSO.

Por Celso Sabadin.

Com 11 longas na bagagem, o diretor turco Nuri Bilge Ceylan é um dos mais festejados dos últimos anos, tendo colecionado – até o momento – quase uma centena de prêmios em festivais nacionais e internacionais. “Era uma Vez na Anatólia” e “A Árvore dos Frutos Selvagens” estão entre os seus trabalhos mais aplaudidos, entre os que chegaram ao circuito brasileiro.

Seu longa mais recente, “Ervas Secas”, se passa em um pequeno e isolado vilarejo turco, lugar onde Samet (Deniz Celiloglu) e Kenan (Musab Ekici) – ambos professores da escola local – dividem uma moradia. Inquieto, Samet conta os dias para trocar de escola e lecionar na cidade grande. Acomodado, Kenan se resigna ao seu destino interiorano. Entre ambos surge a enigmática Nuray (Merve Dizdar), mulher forte e altamente politizada, de grande poder transformador.

Fiel ao estilo de seu diretor, “Ervas Secas” se desenvolve em belíssimos e longuíssimos planos convidativos a profundas reflexões. Enormes diálogos se desenrolam quase sem cortes, repetindo-se em suas ideias, multiplicando assim as tensões crescentes que invariavelmente surgem entre seus personagens, que por sua vez representam as diferenciações culturais da Turquia. Vários níveis de diferentes conflitos emergem a todo momento. “Infelizmente, o sangue virou o destino do nosso Oriente”, conclui alguém.

A dicotomia entre opressão e liberdade – que também pode ser observada entre os protagonistas masculinos – é potencializada por uma impressionante fotografia que contrapõe o aconchego dos ambientes internos à aspereza do inverno externo.

Uma cena em especial – que me permito não especificar, para não dar spoiler, mas que certamente o público vai notar – causa um forte estranhamento que se equilibra na tênue linha que separa a genialidade do exibicionismo vazio.

Um gigantesco off na última cena, explicando verbal e detalhadamente as “considerações finais” do protagonista, quase põe tudo a perder. Talvez Ceylan estivesse pensando em vender seu filme para a Netflix…

O roteiro – escrito pelo próprio diretor, em parceria com sua esposa, Ebru Ceylan – é baseado nos diários que o professor de arte Akin Aksu escreveu durantes seus três anos de magistério na Anatólia. Produzido por Turquia, França, Alemanha e Suécia, “Ervas Secas” estreou nos cinemas do Brasil em 14/03.