Espanglês

A idéia até que era boa: fazer uma comédia romântica “binacional” tendo como tema as marcantes diferenças sócio-culturais que separam os vizinhos México e EUA. Latinos e norte-americanos seriam o público a ser conquistado pela produção. Nas bilheterias, porém, a estratégia não deu certo: Espanglês custou US$ 80 milhões e faturou somente a metade. Mas na tela o filme é simpático e funciona bem.
Toda a história é narrada por Cristina (a boa estreante Shelbie Bruce), uma garota mexicana filha da bela Flor (Paz Vega, a atriz espanhola de Lucia e o Sexo), mulher sofrida e batalhadora que foi abandonada pelo marido. Cansada de sofrer, Flor decide cruzar a fronteira junto com a filha para tentar uma vida melhor nos EUA. E mesmo sem falar uma só palavra em inglês, ela consegue emprego como doméstica numa casa materialmente milionária e emocionalmente miserável (um microcosmo dos EUA?). É lá que as duas mexicanas vão tomar contato com o universo de Deborah (Téa Leoni, num papel muito parecido com o de Annette Benning em Beleza Americana) e John (Adam Sandler, surpreendentemente bom), um casal que é a prova viva do antigo ditado “a felicidade não se compra”.
As culturas se chocam, as realidades sociais entram em conflito, e a barreira da língua é apenas um pequeno detalhe que sublinha o gigantesco abismo que separa as famílias Moreno e Clasky. Mas mesmo assim elas vão tentar provar que a convivência é possível… se é que a convivência é possível…
O diretor, produtor e roteirista James L. Brooks (o mesmo de Laços de Ternura e Melhor é Impossível) foi corajoso em não ceder às fórmulas fáceis, clássicas e tradicionais das comédias românticas superficiais. Ele vai mais fundo no problema, tenta analisar os dois lados da questão, e – o mais importante – não acena nem com heróis nem com vilões. Não polariza: todos têm suas razões para fazer o que fazem. Extraindo o melhor de seu elenco, Brooks sabe abrir espaço para o drama, para a comédia e para o romance. É verdade, sim, que em algumas cenas ele esbarra no melodrama choroso, mas, convenhamos, como não esbarrar, se um dos grandes assuntos do filme é o México, capital mundial do melodrama?