“ESPERO QUE ESTA TE ENCONTRE E QUE ESTEJAS BEM” FALA SOBRE CARTAS. LEMBRA? CARTAS.

Por Celso Sabadin.

O crescente interesse do documentário como gênero cinematográfico que vem sendo observado desde 11 de setembro de 2001 (momento em que a realidade documental se mostrou mais inacreditável que os roteiros ficcionais) abriu espaço e caminho para inúmeros jovens documentaristas e variadas propostas.

Neste contexto, um estilo que vem sendo cada vez mais disseminado é o chamado documentário pessoal, ou documentário em primeira pessoa. Não é exatamente uma novidade, mas trata-se basicamente de um relato intimista no qual o documentarista discorre sobre algum aspecto individual de sua família ou sua vida, independentemente do tema se abrir ou não para uma perspectiva mais ampla e/ou universal. Um avô que foi à guerra, uma lembrança dos pais, um sentimento da época de criança, coisas assim. Seria uma potencialização da antiga máxima do “seja universal falando de sua vila”.

Em “Espero que Esta te Encontre e que Estejas Bem”, a roteirista e diretora Natara Ney abre uma portinha a mais neste estilo pessoal ao contar a história de uma troca de cartas de amor que não faz parte de sua família, nem de ninguém que ela conheça.

Durante uma pesquisa para um outro projeto, numa feira de antiguidades no Rio de Janeiro, Natara se deparou com um pacote de 180 cartas de amor escritas entre 1952 e 1953. E resolveu procurar quem seriam, afinal, os tais Lúcia e Oswaldo desta intensa troca de correspondência. Possibilidade de encontrá-los? Praticamente nenhuma.

Ao longo de sete anos, desde a descoberta das cartas até a finalização do longa, a cineasta filmou em Campo Grande e Rio Janeiro, e colocou ao centro do documentário a sua própria história de amor. “Depois de ler eu tinha um painel completo de como eram as duas cidades, dos costumes daquela época e o cotidiano daquele casal. Estas cartas foram minhas companheiras por muito tempo”, afirma Natara.

Inspirado e provando que em praticamente tudo à nossa volta sempre existe um bom motivo para fazer um bom documentário, o longa estreou no último dia 9 de junho em cinemas de São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Porto Alegre, Manaus, Campo Grande, Brasília, Belo Horizonte, Balneário Camboriú e Aracaju.