ESQUEÇA O TÍTULO RUIM E DESCUBRA “UMA NOITE DE CRIME: ANARQUIA”.

Filme faz duras críticas à direita raviosa dos EUA.

por Celso Sabadin.

O filme não tem atores famosos e, mesmo contando com Michael Bay entre os seus produtores, fica bem aquém das badalações midiáticas convencionais. Talvez isso aconteça porque “Uma Noite de Crime: Anarquia”, exatamente como o seu predecessor “Uma Noite de Crime”, do ano passado, toque em assuntos que a conservadora sociedade norte-americana não esteja nada disposta a encarar. Mesmo porque é ela própria o grande vilão do filme.

Nesta continuação, vemos que no ano 2023 (logo ali na esquina) o governo norte-americano continua firme e forte em seu propósito de promover, todos os anos, a tal “Noite de Crime”. Ou seja, durante 12 horas todas as leis ficam suspensas, e qualquer cidadão fica livre para cometer o crime que desejar, pois não haverá punição. Serviços públicos como polícia, bombeiros e ambulâncias também ficam suspensos durante o período. Sem a presença do Estado, vale, portanto, a lei do quem pode mais chora menos. Os ricos se isolam em seus poderosos sistemas de segurança, e os pobres… ora, os pobres.

Graças a estas anuais Noites de Crime, o governo dos EUA (“por uma América Renascida”, eles dizem) conseguiu diminuir os índices de desemprego e violência, pois liberar geral uma noite a cada ano fez com que diminuísse o desemprego (afinal, os mais necessitados foram dizimados), além de causar na população bem de vida um saboroso alívio causado pelo simples prazer de matar o seu “inferior”, seja ele negro, imigrante, ou apenas socialmente prejudicado.

Ou seja, tangenciando a realidade, o filme não é tão ficção científica assim.

O roteirista e diretor James DeMonaco não usa meias palavras (nem meias imagens) ao criticar a paixão bizarra que o americano nutre pelas armas e pela violência, muito menos o ódio latente daquele povo contra as minorias. Critica também a idiotice do patriotismo cego que obedece e enaltece um governo que oficializa o crime como forma de combate à pobreza, como que ressaltando que, naquela sociedade doentia, o pior de todos os crimes de fato é ser pobre ou negro, e não ser assassino.

“Uma Noite de Crime: Anarquia”, por vezes esbarra na ingenuidade (como apresentar o guerrilheiro com óculos de aros redondos e boina de Che Guevara, por exemplo) e não deixa de cumprir certas regrinhas básicas e convencionais dos filmes de ação, mas são concessões compreensíveis para de um produto que se propõe comercial. E nunca é demais lembrar que, para ser compreendido pelas grandes plateias, a sutileza não é o melhor caminho.

Os créditos finais, mesclando cenas reais de violência com hinos patrióticos, deve ter irritado muito Republicano…