“ESTAMOS BEM MESMO SEM VOCÊ” HONRA AS TRADIÇÕES DO CINEMA ITALIANO

Depois de atuar em quase 40 filmes de cinema e televisão, o italiano Kim Rossi Stewart decidiu dirigir seu próprio trabalho. E acabou realizando uma estréia das mais dignas de nota: “Estamos Bem Mesmo sem Você”, sensível drama familiar que honra as tradições do sempre poético e emotivo cinema italiano. Com direito a pitadas de Neo Realismo.
Simples e tocante, a trama se desenvolve através do ponto de vista de Tommy (o estreante Alessandro Morace), garoto de 11 anos que vive com seu pai Renato (interpretado pelo próprio diretor) e a irmã Viola (Marta Nobili, também estreando). Este pequeno núcleo familiar – assim como tantos outros – vive entre tapas e beijos. O pai, italianíssimo, alterna em curtíssimos espaços de tempo os mais carinhosos afagos com as mais explosivas reações raivosas. E os irmãos se mostram cúmplices ou competidores, de acordo com cada circunstância. O dinheiro é pouco, a união é forte.
Num primeiro momento, omite-se de forma proposital qual teria sido o destino da suposta mãe desta família. A presença (ou a ausência) materna será, porém, o elemento explosivo que detonará finalmente o forte direcionamento dramático pelo qual o filme passará.
O estilo de “Estamos Bem Mesmo sem Você” lembra o trabalho de Nani Moretti, premiado cineasta de “Caro Diário” e “O Quarto do Filho”. Ou seja, os méritos da obra são focados no intimismo, no poder das relações familiares, nas dúvidas e hesitações de quem se percebe chefe de família, e em todas as responsabilidades que isso traz. É um cinema fortemente emocional, psicológico, que tem na própria vida o seu maior “efeito especial”. E que nem por isso deixa o bom humor de lado (há uma ótima cena envolvendo um camelo…).
Talvez não seja propriamente uma história auto-biográfica, mas Stewart fez questão de filmar as cenas da escola exatamente no colégio que ele freqüentava, quando era menino. Por outro lado, não era intenção do diretor fazer o papel principal. Ele foi praticamente forçado a isso quando Renato Benetti, o ator originalmente escalado, pulou fora do projeto a apenas duas semanas das filmagens.
Percalços a parte, o filme obteve várias premiações italianas e internacionais, incluindo melhor direção em Copenhagen, melhor diretor estreante no David di Donatello (o Oscar italiano), e Prêmio Especial do júri na Mostra de São Paulo.
E uma última informação: o título original do filme – que só se compreende após a última frase do roteiro – é uma preciosidade.