“ESTRELAS ALÉM DO TEMPO” EMPOLGA PELA DENÚNCIA À INTOLERÂNCIA.  

Por Celso Sabadin.

Existem filmes que nos mostram histórias tão interessantes e apaixonantes que a gente acaba até relevando seus eventuais problemas estéticos e cinematográficos. “Estrelas Além do Tempo” é um deles.

Tudo nele é absolutamente convencional, desde o roteiro ao estilo de direção, incluindo todos os quesitos técnicos que envolvem enquadramentos, montagem, fotografia, cenografia e tudo o mais. Há uma certa redundância didática em várias cenas que parecem ter sido feitas para o público que às vezes se esquece da tela e se concentra na pipoca. E uma inegável previsibilidade. Mas, mesmo assim, dentro de seu total tradicionalismo narrativo, o filme é hábil ao transmitir para o público uma forte dose de emoção ao contar a inacreditável história verídica do que seu título original chama de “figuras escondidas”.  O tal “Hidden Figures” se refere a um grupo de mulheres altamente especializadas em matemática que atuavam no programa espacial norte-americano que levou o Homem até a Lua. E por que elas eram “escondidas”?  Porque elas eram negras, fato inadmissível naqueles intolerantes anos 60, nos quais a conservadora sociedade norte-americana enxergava fantasmas destruidores de seu way of life em qualquer comunista, qualquer negro, qualquer indígena ou chicano. E provavelmente enxergam até hoje.

Atualmente soa inadmissível que a segregação racial dos Estados Unidos, que separava escolas, banheiros e até lugares em ônibus pela cor de seus usuários, tivesse a dose suficiente de ignorância para viralizar tal doença até dentro dos corredores da supostamente evoluída NASA. Mas era exatamente o que acontecia. Se o excelente “Os Eleitos” narra a história deste mesmo momento pelo ponto de vista dos famosos – os astronautas – , “Estrelas Além do Tempo” o faz pelo prisma dos excluídos.

A transposição para a tela deste (mais um) episódio vergonhoso da história dos EUA chega num momento de intensas discussões sobre racismo e segregação, seja lá contra qual minoria, e ganha sua força muito mais pelo que mostra que propriamente pela forma como mostra. Neste caso, o “convencional” acaba virando “clássico”.

Trata-se do segundo longa de Theodore Melfi, o mesmo realizador de “Um Santo Vizinho”. A estreia é nesta quinta, 2 de fevereiro.