“EU, PECADOR” BRINDA O TIMÓTEO INCOERENTE.

Por Celso Sabadin.

Falecido no último dia 3 de abril – uma entre as mais de 400 mil vítimas fatais do Covid 19 e da incompetência do atual desgoverno federal brasileiro – o cantor Agnaldo Timóteo era uma das mais conhecidas e polêmicas personalidades da vida pública nacional. Não exatamente pelo seu desempenho nos palcos, rádios e discos – onde sempre foi tido como uma das melhores vozes populares país – mas principalmente pela sua vida político/partidária. Destemperado e histriônico, arrumava brigas a torto e a direito (e à esquerda também), e não tinha a menor preocupação em ser coerente.

Esta trajetória é revivida em “Eu, Pecador”, documentário dirigido pelo também polêmico Nelson Hoineff. Resultado de um documentarista polêmico documentando um personagem polêmico, obviamente o filme também tem a sua própria história: como Hoineff faleceu em dezembro de 2019, o material gravado com Agnaldo acabou ficando meio esquecido por mais de um ano, e o longa só foi de fato finalizado agora, graças à ação do Canal Brasil e do produtor Cavi Borges.
O filme tem o mérito de simplesmente deixar fluir as incongruências que sempre marcaram o personagem. Amigos íntimos da política se transformam em inimigos mortais em poucos anos (as datas dos depoimentos são sempre registradas, o que contextualiza cada momento político), desmentidos e confirmações sobre sua homossexualidade convivem sem o menor problema, reações destemperadas se misturam fluidamente a momentos de profundas confissões afetivas, e por aí vai.

Não, Agnaldo Timóteo não preferia ser uma metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo. Talvez fosse simplesmente incoerente. Talvez usasse esta imagem para sua própria projeção pública, o que auxiliava sua carreira política. Talvez. Não é função do filme tentar solucionar este mistério insolúvel.
Toda esta enxurrada de fúrias e lágrimas protagonizada pelo cantor é embalada, no filme, por parte de seu grande repertório musical – que pode ser questionado por quem não é fã de canções românticas e/ou bregas – mas que não deixa dúvidas sobre suas qualidades vocais.

Um dos últimos representante da era dos vozeirões fortes, imponentes e grandiosos – na linhagem de Cauby Peixoto e Nelson Gonçalves por exemplos – Agnaldo Timóteo acaba de ir embora, mas que bom que deu tempo de documentá-lo no cinema.

“Eu, Pecador” está disponível nas plataformas Now, Oi e Vivo Play, com previsão de estreia no Cana Brasil para o mês de julho.