EXASPERADOR, “NO FIO DA NAVALHA” DENUNCIA O PODER JURÍDICO DA EXTREMA DIREITA.

Por Celso Sabadin.

Até pouco tempo atrás, quando eu via filmes sobre injustiças jurídicas provocadas por pressões políticas da extrema direita, eu ficava indignado. Hoje, eu fico exasperado, sem fôlego, com dor no peito. Tramas das mais intensas desumanidades – que antes pareciam ficcionais – agora acontecem diariamente nas esquinas das nossas próprias casas, o que potencializa a veracidade e a recepção de filmes como este “No Fio da Navalha”, por exemplo, que estreia dia 12 de agosto na plataforma cinemavirtual.com.br

Tudo acontece na Eslováquia, mas isso é um mero detalhe geográfico: poderia ser aqui. Como de fato, muitas vezes, é. Profundamente perturbado pelo assassinato de seu filho por um grupo de neonazistas, o pequeno comerciante Ludo (Roman Luknár) luta nos bastidores jurídicos para que os culpados sejam presos. Mas se depara com uma inexplicável rede de proteção que blinda os criminosos. Impossível não lembrar do caso Marielle.

A sinopse pode sugerir um filme daquele velho estilo, bastante utilizado no cinema norte-americano, no qual o cidadão comum e solitário luta heroicamente contra o sistema corrupto, em busca da inevitável justiça redentora. Não é nada disso. Pelo contrário: “No Fio da Navalha” impressiona pelo seu realismo, pela dor de seu silêncio, pela indignação das vias legais obstruídas pelo medo e pela intimidação, pela ausência de espetacularização barata. Também passa longe daqueles “filmes de tribunal” cheios de “ooohs”, “ordem na corte!” e reviravoltas mirabolantes no final.

A fotografia esmaecida e sem brilho enfatiza com talento o clima sombrio e desesperador vivido pelos protagonistas.

Com direção de Teodor Kuhn e roteiro de Jakub Medvecký, em parceria com o próprio diretor (ambos promissores estreantes em longas), “No Fio da Navalha” venceu o prêmio Nova Europa no Festival Internacional de Praga, e foi indicado a várias premiações em seu país de origem, a Eslováquia.