“EXUBERANTE DESERTO”: CHANTAGEM EMOCIONAL PELA QUAL SE PAGA COM PRAZER.

Pelo menos para quem se recorda dos anos 60 e 70, a palavra “kibutz” é geralmente associada a uma utópica forma de se viver em comunidade e harmonia. Algo como a versão judaica do movimento hippie. Esta, definitivamente, não é a visão proposta pelo roteirista e diretor israelense Dror Shaul no emocionante drama “Exuberante Deserto”.
Ambientada em 1974, a história do filme é contada sob o ponto de vista de Dvir (o bom estreante Thomas Steinhof), garoto de 12 anos que mora num kibutz em Israel com sua mãe Miri (Ronit Yudkevitz) e seu irmão mais velho. Num primeiro momento, o lugar parece ser um verdadeiro exemplo de união e cooperação, mas a chegada de Stepan (o veterano ator belga Henri Garcin), o namorado gói (não judeu) de Miri, começa a mostrar que tudo é bem diferente do que parece ser.
O diretor Shaul não esconde seu talento em manipular emoções e criar belas cenas. Enquadra com precisão gráfica, usa e abusa de tempestades torrenciais quando preciso, coloca trilha sonora nos momentos corretos, entra no íntimo do espectador em longos planos silenciosos. Parece pensar seu filme matematicamente. Lembra o Walter Salles de “Central do Brasil’, principalmente quando se percebem os tema recorrentes das cartas escritas por outras pessoas e da relação criança/mãe/pai. Cinematograficamente, opta por não ousar. Mas envolve o público com uma forte dose de Humanidade e sentimentalismo. Como permanecer indiferente à história de um menino que vê sua mãe enlouquecendo aos poucos, diante de seus olhos?
Pode-se até acusar Shaul de chantagem emocional, mas no caso de “Exuberante Deserto”, quem se dispuser a pagar o preço deste resgate emocional certamente vai se sentir recompensado. Não por acaso, o filme foi premiado em Miami, Sundance e Berlim, entre outros eventos.