“FABIAN” E O DESESPERO ALEMÃO PRÉ-GUERRA.

Por Celso Sabadin.

Com o sugestivo subtítulo de “O Mundo Está Acabando”, estreou na última quinta-feira, 10 de março, a produção alemã “Fabian”, selecionado para a mostra competitiva principal do Festival de Berlim do ano passado.

O mundo que – segundo o subtítulo em português estaria se acabando – não é o nosso mundo atual, como se poderia supor, mas o mundo alemão de 1931, momento de ascensão do Partido Nazista, que acabaria efetivamente tomando o poder dois anos depois.

É neste contexto que se insere o Fabian do título (Tom Schilling), um jovem e promissor publicitário que cria anúncios de cigarros durante o dia e mergulha fundo no universo de prostíbulos e cabarés berlinenses durante a noite. Até o momento em que ele se apaixona por Cornélia (Saskia Rosendahl), uma candidata a atriz que está disposta a tudo para fazer sucesso em sua carreira.

Entre ambos, uma Alemanha que se desmorona política e moralmente.

Na primeira parte de suas longas 3 horas de duração, o filme assume uma estética fragmentada alucinógena-perturbadora e claustrofóbica que ratifica e sublinha o mundo noturno igualmente desconcertante do protagonista. Potencializa-se a decadência humana daquele espaço/tempo o que, evidentemente, exige um esforço a mais do espectador. Chega a lembrar Fassbinder.

Num segundo momento, quando a vida emocional de Fabian se estabiliza com o seu relacionamento com Cornélia, os enquadramentos, cortes e ritmos do longa igualmente se aquietam, dando um respiro à narrativa.

No final, contudo, permanece uma sensação de desperdício, tanto humano quanto cinematográfico, o que pode ser interpretado como a aridez daquele momento histórico que pavimentará catástrofes, ou simplesmente como uma inabilidade da direção.

O roteiro de Constantin Lieb e do próprio diretor, Dominik Graf, foi baseado no livro “Fabian – Die Geschichte eines Moralisten” , que Erich Kästner publicou realmente em 1931. O título original do filme, “Fabian oder Der Gang vor die Hunde” poderia ser traduzido como “Fabian ou a Caminhada dos Cães”, nome que o autor Kästner queria ter dado ao seu livro, na época de sua publicação, mas foi impedido pela sua editora, que o trocou por “Fabian – Die Geschichte eines Moralisten” (a História de um Moralista). Apenas no Brasil o filme foi lançado com o subtítulo de “O Mundo Está Acabando”.