“FALA COMIGO”, INCOMODANDO A HIPOCRISIA.

Por Celso Sabadin.

Não julgar. Talvez esta seja a principal qualidade de “Fala Comigo”, filme que permeia diversos níveis de relacionamento afetivos tentando – e conseguindo – desenvolvê-los sem preconceitos. Se o mote central gira sobre a relação entre o adolescente Diogo (Tom Karabachian, de “Confissões de Adolescente”) e a quarentona Angela (Karine Teles, a mãe coxinha de “Que Horas Ela Volta”), ele também é o gatilho para o disparo de outros subtextos coadjuvantes, mas não menos importantes dentro da trama. Há a mãe psicóloga, firme e competente em sua profissão, mas que vê esvaziar todo o seu “psicologuês” quando o problema a ser enfrentado sai dos limites seguros das paredes de seu consultório para instalar-se no cerne de sua própria família. Há o amigo ciumento que tenta minimizar a atração sexual que sente pelo protagonista como “só uma zoação”. Há o pai que sonha apenas em estar sozinho. E uma irmã que, não por acaso, esconde sua insegurança sob o manto fantasioso da hipocondria.

O fato é que poucos – quase ninguém – sabem lidar com este relacionamento que se inicia ao mesmo tempo platônico, antiético e pornográfico, que envolve um casal que as leis das aparências e da sociedade condenam, e que desabrocha como real e libertário. Para o incômodo geral da nação que acredita firmemente na hipocrisia.

Mais que o simples nome do filme, “Fala Comigo” é o grito de uma era solitária em que todos parecem falar. Mas nunca “comigo”. Marcando a estreia na direção de longas do premiado curtametragista Felipe Sholl, o filme estreia nesta quinta, 13/07.