“FALLING”, DESESPERADORAMENTE FAMILIAR.

Por Celso Sabadin.
 
Com o inacreditável subtítulo em português “Ainda Há Tempo”, estreia nesta quinta, 02/12, o contundente drama familiar “Falling”, escrito, dirigido, interpretado, produzido e musicado por Viggo Mortensen, o ótimo ator de “A Estrada”, “Green Book”, e mais conhecido do grande público como o Aragorn de “O Senhor dos Anéis” (ninguém é perfeito, né?).
 
Explorando aspectos autobiográficos de Mortensen, “Fallen” narra o inferno de ser filho de Willis Petersen (Lance Henriksen), um estadunidense como milhões de outros: homofóbico, retrógado, armamentista, violento, machista, misógino e republicano.
A história é mostrada sob o ponto de vista de John, seu filho (papel de Viggo Mortensen), que demonstra uma paciência infinita para lidar com o pai que – além de tudo – sofre de demência. Em entrevista ao “The Irish News”, o ator/diretor/produtor afirmou que o personagem do pai não é um homem confuso, pois ele acredita realmente em tudo o que fala. “Confuso fica quem convive com ele”, disse.
 
E, de fato, chega a ser inacreditável acompanhar o inesgotável sangue frio com o qual os filhos tratam o insuportável pai. Em alguns momentos, a gente chega a pensar que o roteiro exagera, mas logo em seguida, lembrando das brigas com a família a partir de 2018, tudo entra novamente nos eixos da verossimilhança.
O que não dá mesmo para a acreditar é no subtítulo brasileiro “Ainda Há Tempo”, tirado sabe-se lá de onde. Além de ruim demais, ele não corresponde à verdade do filme, e provavelmente deve ter ser sido inventado para tentar dar um alento de otimismo ao filme (em busca de público, claro), otimismo este inexistente no roteiro. Sim, enganoso.
 
Produzido por Canadá, Inglaterra e EUA, “Falling” coleciona cerca de 20 indicações e premiações em festivais internacionais, incluindo o de Melhor Filme no prestigioso San Sebastián, na Espanha.