FAM 2020: “PUREZA” DENUNCIA TRABALHO ESCRAVO.

Por Celso Sabadin.

Existem histórias cuja importância transcendem a própria dimensão do filme que a narra. É o caso de “Pureza”, importante denúncia de um caso real acontecido no Brasil dos anos 1990 mas que, como todos sabemos, ultimamente só piora.

Pureza (magnífica interpretação de Dira Paes) é uma mulher forte e batalhadora que tira seu sustento do árduo ofício de fabricação de tijolos, no interior do Pará. Porém, seu filho Abel (Matheus Abreu, de “Hoje eu Quero Voltar Sozinho”), percebendo o sofrimento da mãe, deseja algo maior para sua vida. O rapaz quer tentar a vida no garimpo, e embrenha-se por perigosos caminhos que podem levar tanto à fortuna como à morte.

Após mais de um mês sem notícias do filho, Pureza sai à sua procura, e acaba se deparando com uma das maiores e mais históricas chagas sociais brasileiras: o trabalho escravo.

Com direção de Renato Barbieri (de “As Vidas de Maria”) e roteiro de Marcus Ligocki Jr. e do próprio diretor, “Pureza” propõe um mergulho por um Brasil que não sai na televisão. As seculares estruturas repulsivas dos donos do poder e suas sólidas ramificações que sugam com ímpeto cada vez mais insaciável a força de trabalho da população são aqui potencializadas pela certeza da impunidade escondida sob o manto verde de um pedaço da Amazônia que a mídia prefere ignorar. Pureza é uma lutadora solitária diante da gigantesca corrupção nacional que começa no meio da mata e encontra validade nos corredores de Brasília.

Não raramente, o filme escorrega em excessos musicais, e flerta com uma linguagem televisiva que faz oscilar a força de sua narrativa. Mas logo se recupera apoiado pelo vigor e importância da denúncia a que se pretende. O elenco é completado por Flavio Bauraqui, Mariana Nunes e Sérgio Sartório, entre outros.

Urgente e necessário, “Pureza” será exibido em plataforma digital nesta segunda-feira (28/09), dentro da programação do FAM – Festival Audiovisual Mercosul. Informações e acessos em www.famdetodos.com.br