Família Rodante

Conflitos e problemas familiares são um prato cheio para o cinema. E nem poderia ser diferente, já que se trata de um tema que quase sempre consegue alcançar uma boa empatia com o público. Quem não tem problemas com família? Só quem não tem família, o que também pode ser um problema.
Assim, o roteirista e diretor argentino Pablo Trapero (o mesmo de O Outro Lado da Lei) visita o tema com o seu Família Rodante, uma espécie de “road movie genético” rodado (literalmente) pelo interior do país vizinho. Tudo começa no aniversário de Emilia (Graciana Chironi, avó do diretor na vida real), uma simpática octogenária que reúne toda a família para um jantar de comemoração. No meio da festa, ela recebe um telefonema de Missões, sua cidade natal, convidando-a a ser madrinha de casamento de uma sobrinha que nem conhece. Mais que aceitar o convite, Emília convoca toda a família – incluindo filhas, filhos, netos, bisnetos e agregados – para acompanhá-la na empreitada. E quem consegue dizer não à simpática vovó? É assim que um total de 12 doze pessoas embarca numa casa rodante, construída sobre um velho Chevrolet 56, e parte da Grande Buenos Aires para uma viagem de mais de 1.200 quilômetros e dois até a fronteira da Argentina com o Brasil e o Paraguai. Começa aí um martírio de quatro gerações de argentinos convivendo, dentro de um único veículo, com seus sonhos, frustrações, dúvidas, medos e até traições.
O estilo de Trapero é simples e despojado. Quase documental. Abre mão de malabarismos técnicos para contar com veracidade e credibilidade esta tragicômica saga portenha. O roteiro, porém, não acrescenta muito ao que já foi falado – e filmado – sobre o assunto. Muito mais contundente, por exemplo, foi o premiado Festa de Família, de Vintenberg. O resultado, fica num patamar satisfatório. Se não chega a ser genial, por outro lado também não decepciona quem procura um cinema alternativo acima da média.
Uma curiosidade: apesar de são se tratar de um filme auto-biográfico, a casa rodante que se vê na tela foi construída de fato pelo pai de Pablo Trapero sobre o chassis de um Chevrolet Viking 56, quando o diretor era criança, e abrigou a família em muitas viagens pelo território argentino. E por mais que a produção do filme pareça “simples”, ela envolveu uma odisséia de 1.200 quilômetros, com 70 técnicos, 12 atores principais e cenas com público com a participação de mais de 500 extras.