“FAMÍLIA SUBMERSA” POTENCIALIZA COM SOBRIEDADE A DOR DA PERDA.

Por Celso Sabadin.
 
A dor da perda muitas vezes (talvez na maioria delas) não é expressa pelo choro, pelo desespero ou por noites insones, mas sim por um profundo buraco negro e vazio que se instala silenciosamente no peito machucado do dia-a-dia. Tal sentimento solitário é expresso com muito talento e sensibilidade pela cineasta argentina Maria Alché no belo
“Família Submersa”.
 
O roteiro, também assinado pela diretora, se centraliza em Marcela (Mercedes Morán, de “Um Amor Inesperado” e “Sueño Florianópolis”), uma mulher de meia idade que tenta manter seus afazeres diários e algum equilíbrio emocional enquanto digere a morte de sua irmã. É o famoso “vida que segue”. Mas segue como? A que preço? A que dor? Ao optar pela sobriedade, “Família Submersa” potencializa a profundidade do sentimento de perda, ao mesmo tempo em que humaniza fortemente seus personagens ao lhes proporcionar variadas camadas de interpretações contidas e sutis. A cena de Mercedes, profundamente abalada, tomando uma prosaica lição de geografia do filho já pode ser considerada antológica.
 
“Família Submersa” é o longa de estreia de Alché, que foi protagonista de “La Niña Santa”, da conterrânea Lucrecia Martel, cineasta que Alché elegeu como referência. Estilisticamente, ela bebe na fonte de sua mestre, principalmente em relação aos ambientes escuros e claustrofóbicos que sublinham e emolduram as emoções sufocantes que o filme destila. Ainda que sua narrativa seja – felizmente – bem menos cifrada que a de Martel.
 
Coproduzido por Argentina, Brasil, Alemanha e Noruega, “Família Submersa” participou do 65º Festival Internacional de San Sebastián (Cine en Construcción), 71º Festival de Locarno (Concorso Cineasti del Presente), 66º Festival Internacional de San Sebastián onde levou o prêmio de Melhor Filme na mostra Horizontes Latinos e do 25º Fic Valdivia em que recebeu Menção Especial do Júri na Competição Internacional. O filme ainda conquistou o prêmio Ingmar Bergman de Melhor Primeiro Filme no Festival de Gotemburgo e participou da 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e do Festival do Rio 2018, está selecionado para o prestigioso New Directors New Films em Nova York no próximo abril, e de agosto de 2018 para cá, já esteve em mais de 20 festivais. O longa também conquistou os prêmios de desenvolvimento do Sorfond 2016 e Visions Sud Est 2015. “Família Submersa” também ganhou o prêmio de Melhor Direção no Festival Internacional de Cine UNAM, no México.