“FAMÍLIA” TEM DE SER SEMPRE ASSIM?
Por Celso Sabadin.
Sim, à primeira vista, “Família” é sobre um relacionamento abusivo entre marido e esposa. Contudo, um olhar menos ansioso revela que o filme traz outras camadas ainda mais envolventes de percepções.
O roteiro já pega a história – digamos – “começada”, mostrando Licia (Barbara Ronchi) trocando as fechaduras de sua casa. Seus dois filhos pequenos não compreendem exatamente o que está acontecendo, mas o público logo percebe se tratar do cumprimento de uma ordem judicial restritiva de Lícia contra o marido violento Franco (Francesco Di Leva).
Se, por um lado, a trama pode parecer recorrente, já explorada em diversos outros filmes, por outro, alguns desdobramentos de roteiro lhe conferirão dimensões mais plurais e aprofundadas.
Para além da esfera familiar, o longa mergulha no escopo dos comportamentos violentos como uma trágica herança humana, que perpetuará infinitamente a dor e a barbárie entre as gerações, caso não seja devidamente combatido e extirpado. O tema ganha uma dimensão potencializada na medida em que se explicita que tudo se passa na Itália, berço de um fascismo que se julgava morto, mas que desgraçadamente não está. A questão gira sobre as raivosas intolerâncias que perpassam a História e os relacionamentos humanos.
Tem de ser sempre assim?
“Família” se destaca também pela forte intensidade dramática e pela habilidade em criar suspenses que o diretor Francesco Costabile demonstra neste seu quarto longa, o primeiro a obter distribuição comercial em nossos cinemas. A trilha sonora inquietante e perturbadora de Valerio Vigliar também contribui bastante para o ótimo resultado final.
“Família” é baseado no livro autobiográfico “Non Sarà Sempre Così” (Não Será Sempre Assim, em tradução livre), de Luigi Celeste, que no filme é interpretado por Francesco Gheghi.
Vencedor de seis prêmios no Festival de Veneza, “Família” estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 06/02.