FARHADI CONFIRMA SEU TALENTO GLOBALIZADO EM “TODOS JÁ SABEM”.

Por Celso Sabadin.

Asghar Farhadi é conhecido como o menos iraniano dos cineastas iranianos. Ele é um dos principais responsáveis – talvez o principal – por transformar o poético e criativo cinema iraniano dos anos 1980 e 90 em um tipo de cinema mais convencional, palatável e – claro – comercial e globalizado. Para ele, internacionalizar (e consequentemente descaracterizar) a estética do que era produzido no Irã deu muito certo: a estratégia já lhe rendeu dois prêmios Oscar de filme estrangeiro por “A Separação” e “O Apartamento”. E ganhar o Oscar, como se sabe, é ser coroado muito mais pelo mercado que pelo cinema.

Em seu novo trabalho, “Todos Já Sabem”, Farhadi volta menos iraniano e mais internacional do que nunca. Coproduzido por Espanha, França e Itália, o filme é um drama familiar com toques de suspense talhado para ser um sucesso global. E está conseguindo seu objetivo, recebendo não só oito indicações ao Prêmio Goya como participando da competição oficial em Cannes. A própria escolha do elenco já sinaliza seu potencial de bilheteria: ninguém menos que Penélope Cruz, Javier Barden e Ricardo Darín dividem o protagonismo, formando uma trinca praticamente impossível de fracassar.

O roteiro, também de Farhadi, na verdade é muito simples, criando uma forte linha de suspense em torno do desaparecimento de uma jovem, durante uma latinamente agitada festa de casamento. O pano de fundo familiar aos poucos deixa de ser apenas um mero pano de fundo e ganha contornos de protagonismo, na medida em que as ramificações de antigos ódios vão se disseminando e se fortalecendo no terreno fértil das investigações do suposto sequestro. Dramaturgicamente, o longa é claramente divido em duas partes, sendo uma primeira de apresentação de (vários) personagens enroscados por laços familiares, e a segunda se transformando naquilo que se convencionou chamar de “whodunit”, ou seja, a procura pelo culpado.

Tudo muito bem interpretado, bem produzido e otimamente embalado para o consumo internacional, confirmando novamente o talento comercial de Farhadi.