FAROESTE À FRANCESA, “DÍVIDA DE HONRA” TRAZ OS TALENTOS DE TOMMY LEE JONES E HILARY SWANK.

Por Celso Sabadin.

Tido como “o mais americano dos gêneros cinematográficos”, o western, que parecia morto no final dos anos 50, foi ressuscitado pelo cinema italiano na década de 60. Agora, em pleno século 21, quem diria, chegam os franceses para dar uma aula de faroeste para todos os fãs do gênero.

“Dívida de Honra” pode não ser, como de fato não é, o típico “filme de cowboy”, com os clichês de sempre. É muito melhor que isso. A partir do livro de Glendon Swarthout, o envolvente roteiro se centraliza em Mary Bee (Hilary Swank, ótima), uma mulher solitária que vive na desolada solidão do velho oeste e que assume para si uma tarefa das mais ingratas: levar três mulheres que, por variados motivos, enlouqueceram, para serem internadas numa instituição religiosa que cuida de deficientes mentais. Uma viagem longa, solitária, difícil e repleta de perigos. Para acompanhá-la, Mary Bee contrata George (Tommy Lee Jones, também ótimo, o que não é novidade nehuma), um alcoólatra foragido que embarca nesta aventura insana motivado apenas pelo dinheiro e pela possibilidade de fugir do lugar onde é procurado.

“Dívida de Honra” é um road-movie sem road, pois os tortuosos caminhos percorridos pela improvável dupla não podem ser considerados propriamente “estradas”. Mais importante que os caminhos físicos, porém, são as fascinantes jornadas internas empreendidas pelos protagonistas, que formam aqui um dueto de uma intensa carga dramática e de uma química faiscante que fazem a alegria de qualquer cinéfilo.

Jones, por sinal, além do papel masculino principal, também corroteiriza o filme e o dirige com maestria. Um dos maiores destaques é a belíssima fotografia do mexicano Rodrigo Prieto (o mesmo de “O Segredo de Brokeback Mountain” e “O Lobo de Wall Street”, entre vários outros), que explora com muito talento a imensidão e a aridez de uma paisagem perfeitamente sintonizada com a aspereza das pessoas que nela habitam. O vento intenso, sempre presente, sublinha a desolação que expõe as raízes de um país ainda em formação, que mistura selvageria e religiosidade em iguais intensidades.

.Afinal, como diz o protagonista, “As pessoas gostam de falar sobre mortes e impostos. Se o assunto é loucura, elas se calam”.

Misturando com habilidade cenas de aventura, drama, horror e de humor, Jones cria uma obra singular, amparado pelo sempre caprichoso Luc Besson, o mais americano dos produtores franceses. Coproduzido por Estados Unidos e França, “Dívida de Honra” é uma belíssima contribuição do país de Molière ao sempre imortal western norte-americano.