“FÁTIMA”, ARGELINA, EXILADA, E MÃE.

Por Celso Sabadin.

Existem filmes que nos conquistam pela simplicidade e pela sutileza.  “Fátima” é um deles. Com muita sensibilidade, o diretor marroquino radicado na França Philippe Faucon conta a história desta mulher que dá título ao filme. Fátima é uma argelina que vive em Paris, mas que representa o mesmo universo de uma turca que vive em Berlim, ou de uma indiana que vive em Londres ou uma paraibana que vive no Rio de Janeiro. A questão principal é o exílio forçado.

Além dos problemas comuns a toda e qualquer situação de exílio, a protagonista também necessita administrar as questões que tem como mãe de duas adolescentes: Souad, 15 anos, se rebela contra o fato de sua mãe ser faxineira e “limpar a merda dos outros”. E Nesrine, 18 anos, busca realizar seu grande sonho de estudar Medicina. Uma precisa de apoio e orientação; a outra precisa de dinheiro. E Fátima precisa viver entre todos estes conflitos, ao mesmo tempo em que tenta aprender a se expressar fluentemente no idioma de um país que não é o dela.

O que mais agrada no filme é a maneira sóbria e sensível como ele é dirigido, mantendo um equilíbrio narrativo que trafega em paralelo com o mesmo tipo de equilíbrio sóbrio – que não deve ser confundido com conformismo –  demonstrado por Fátima ao administrar todas as suas perturbações potencializadas pelo abismo sociocultural em que habita.

Se o filme exala verdade, não é por acaso: o roteiro é baseado nos textos autobiográficos de Fatima Elayoubi, publicados em 2006 no livro “Prière à la Lune”. E a atriz amadora que a interpreta, Soria Zeroual, era faxineira na vida real.

Vencedor de três prêmios Cèsar, incluindo o de Melhor Filme, “Fátima” estreia no Brasil, nesta quinta, 16 de março.