“FEDERAL” TEM PROBLEMAS AO ABORDAR TEMA POLICIAL BRASILEIRO.

Logo na primeira cena de “Federal”, um grupo de policiais investiga o massacre de uma família. Percebe-se claramente, principalmente pelas sombras das árvores, que o sol está a pino. Corta. Imediatamente os mesmos policiais, na mesma sequência, no mesmo momento fílmico, estão banhados pelo típico sol alaranjado do final de tarde, com sombras compridas. Mero detalhe de falta de continuidade na fotografia? Pode até ser, mas trata-se de um detalhe que sinaliza o que está por vir: “Federal” é um filme repleto de problemas. E este é apenas o primeiro.

No roteiro assinado a seis mãos por Érico Beduschi, Hebert Trigueiro e pelo próprio diretor Erik de Castro, Vital (Carlos Alberto Riccelli), Dani (Selton Mello), Lua (Cesário Augusto) e Rocha (Christovam Neto) formam um grupo especial de investigações da Polícia Federal. Entre outros casos, o maior objetivo é capturar Béque (Eduardo Dussek), líder de uma rede internacional de tráfico conectada com Brasília.

Tudo segue o procedimento padrão (pode-se ler clichês) das tramas policiais convencionais, como o heroi preocupado com a esposa grávida, a investigação antidrogas centralizada em ambientes da classe alta, os interrogatórios ilegais realizados com extrema violência, a prostituta de bom coração e assim por diante.

O maior problema, porém, é que o filme não consegue dar credibilidade e dimensão humana aos seus personagens. A narrativa truncada, procurando abordar vários assuntos e sub-temas simultaneamente, faz com que fique bastante dificultada a empatia que o público pudesse desenvolver com esta ou aquela situação. Por não obter uma montagem hábil o suficiente nas cenas de lutas e perseguições, “Federal” também não convence como filme de ação. E o elenco, por melhor que seja (tem até Selton Mello) não parece à vontade.

O filme foi acusado de ser uma espécie de sub-Tropa de Elite, mas na verdade sua origem remonta ao ano de 1987, quando o diretor Erik de Castro, então com 16 anos de idade, foi influenciado por “Os Intocáveis”, de Brian de Palma e “Chuva Negra”, de Ridley Scott. Nesse período teve a idéia de uma história policial que se passasse no Brasil, mais precisamente em Brasília, onde nasceu e morou a vida toda. Aos 21 anos, Erik foi estudar cinema na Los Angeles City College. Voltou ao Brasil em 1994 e com o irmão Christian abriu a produtora BSB Cinema, em Brasília, com a qual dirigiu e produziu os ótimos documentários “Senta a Pua” e “A Cobra Fumou”.

“Federal” é uma co-produção da BSB Cinema com a Limite Produções (“Maré, Nossa História de Amor”, “Saens Peña”) e com a colombiana Trebol Comunicaciones, do produtor mexicano Matthias Ehrenberg, o mesmo de “Sexo, Pudor y Lágrimas”.

Certamente Erik e a BSB conseguirão melhores resultados com o lançamento de “O Brasil na Batalha do Atlântico”, documentário em fase de montagem que fechará a trilogia iniciada com “Senta a Pua” e “A Cobra Fumou”, sobre a participação do nosso país na 2a. Guerra Mundial.

Confira o trailer: