FESTA DO CINEMA ITALIANO 2018 MOSTRA A SIMPLICIDADE CONTAGIANTE DE “A VIDA EM FAMÍLIA”.

Por Celso Sabadin.

Disperata é uma pequena cidade italiana (fictícia) cujo nome já dá o tom irônico do filme. Um lugar feioso, com jeitão de abandono, onde a vida passa devagar e todos se conhecem. Principalmente em frente ao decadente boteco sarcasticamente batizado de “La Dolce Vita”. É neste cenário que dois irmãos tentam assaltar um posto de gasolina, sem sucesso: atacados por um cachorro, Angiolino foge e Pati pega dois anos de cadeia. Cumprida a pena, ambos entram em conflito. Angiolino – devoto fervoroso do Papa Francisco – quer retomar a vida de crimes, enquanto Pati aprendeu, na prisão, a ver a vida de forma diferente, graças aos seus estudos de poesia.

Junto com estes dois personagens tragicômicos, um prefeito completamente desinteressado pelos afazeres da Prefeitura, uma velha prostituta, um jovem apaixonado, uma dona de mercado politicamente atuante e um punhado de desocupados traçam um ácido painel social desta melancólica Disperata, um lugar tanto de desalentos como de esperanças, de pecados e milagres, onde o sagrado e o profano transitam lado a lado com a típica desenvoltura do sul da Itália.

“A Vida em Família” é um elogio sincero e até simplório das pequenas coisas boas da vida, como o poder de transformação da arte em geral e da poesia em particular, dentro de uma sociedade marcada pela rudeza. O roteiro é meio desconjuntado, mas aos poucos conquista a simpatia do público, até pela sua bem-vinda ingenuidade, que também tem o mérito de deixar eventuais explicações e racionalidades deliciosamente soltas ao acaso. Como a poesia que o filme tanto preza.

Com direção e roteiro do austríaco radicado na Itália Edoardo Winspeare, “A Vida em Família” faz parte da 8 ½ Festa do Cinema Italiano. A programação completa está em https://www.festadocinemaitaliano.com